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Arrasamento do Morro do Castelo e a Nova Aparência do Rio de Janeiro

Sobre o arrasamento e demolição do Morro do Castelo e suas cosntruções e o surgimento de novas áreas na cidade, como a Esplanada do Castelo e Aterro do Calabouço.

Fala-se também sobre o translado de relíquias históricas e a polémica da preservação.

A Idéia do Arrasamento e Sua Concretização

Representação do Morro do Castelo por volta de 1820A idéia de arrasar o Morro do Castelo já existia muito antes da época em que foi realmente colocado abaixo.

Por muitos anos aventou-se a ideia acerca do arrasamento do morro e esta idéia passou a ganhar força durante o segundo reinado, época de D.Pedro II.

Observe na ilustração panorâmica de 1873, mostrada na página anterior, que pequenas partes das encostas em relação ao todo do morro, nos fundos do edifício da Santa Casa de Misericórida, já aviam sido arrasas. Ou seja, para a construção de galerias do grande edifício, foram utilizadas areas de encosta do morro.

O Morro do Castelo sobreviveu às grandes intervenções urbanisticas feitas na cidade na primeira década do Século 20, época da abertura da Av. Central e outras grandes vias, assim como época da construção do novo porto do Rio.

Polêmica sobre o arrasamento versus preservação do Morro do Castelo como sítio histórico

Na época existiu alguma polêmica levando-se em conta que o local era o mais remoto sítio histórico do Rio de Janeiro. No entanto, na época não existia uma maior preocupação ou até mesmo consciência quanto a preservação do patrimônio histórico por parte das autoridades.

A idéia reinante à época era "progresso" o que significava "novidade" e grandes obras de engenharia. E consequentemente venceu a corrente que pensava ser mais importante olhar para o futuro e deixar o passado registrado apenas nos livros, quando não fosse possível preserva-lo.

Eu que escrevo e estou editando estas páginas sobre o Morro do Castelo, penso que seria muito difícil ter preservado o Morro naquela época, pois o Rio era capital federal e a cidade não possuía espaço e necessitava modernidade segundo a idéia vigente à época.

E se observarmos bem, o Morro do Castelo naquela época, era nada mais que uma caricatura do que um dia foi o local dos primeiros assentamentos. Estava totalmente tomado por construções sem nenhum valor histórico e artístico do final do século 19 e início do século 20, e praticamente favelizado.

Sua preservação somente faria sentido, se fossem preservadas somente as construções mais importantes, como a Fortaleza, trechos de muralhas, Igreja de São Sebastião, Colégio dos Jesuítas e sua Igreja, e feito um levantamente de outras construções que merecessem preservação. No mais, o restante das construções caóticas e sem nenhum valor deveriam ser demolidas, e o morro como um todo ser desocupado e replantado, tentando retomar seu estado de ocupação semelhante ao início do século 19.

Ainda assim, deve-se saber que algumas encostas do morro já haviam sido desmanteladas para construções circundantes, então poderia restabelece-lo parcialmente.

Não se sabe se seria viável um tratamento do morro como eu sugiro acima, até mesmo porque, para melhorar a comunição entre áreas da cidade, talvez fosse necessário construir túneis, e ainda assim havia a necessidade de fazer alguns aterros segundo as soluções urbanisticas da época.

Fica a polêmica e a nostalgia. Mas pessoalmente, acho que, manter o morro naquele estado de favelização ou totalmente ocupado seria praticamente inviável. É melhor pensar no Morro do Castelo nos primordios da colonização ou em sua aparência até os tempos de D.João VI ou até a primeira metade do século 19.

Finalizando, me parece que, ter o Morro na mémoria, principalmente antes da favelização, nos causa uma nostalgia mais agradável e nos leva a fazer a uma interessante viagem no tempo.

Arrasamento do Morro do Castelo originou a Esplanada do Castelo e Aterro do Calabouço para Feira Mundial de 1922

A idéia somente foi levada adiante, de fato e na prática em 1920, quando as obras foram iniciadas durante o governo do Prefeito Carlos Sampaio e do Presidente Epitácio Pessoa.

Além da idéia de ganhar área plana na cidade, ganharia-se mais área de aterro em volta da antiga "Ponta do Calabouço", uma nesga de rocha que se projetava mar adentro, semelhante às formações rochosas sobre as quais foi construído o Forte de Copacabana. Na Ponta do Calabouço, já existiam algumas construções de cunho militar como o Arsenal de Guerra e Casa do Trem, e onde na ponta da rocha existiu uma antiga fortificação chamada Forte São Tiago, com bateria de canhões, e na época também ocupada por edificações militares.

A terra que era retirada do morro que estava sendo desmantelado, já desagregada era levada para o chamado Aterro do Calabouço em volta destas antigas construções sobre a pequena península.

Esta área aterrada foi primeiramente utilizada para a realização da Feira Mundial Comemorativa do 1º Centenário da Independência no ano de 1922.

As construções que existiam na Ponta do Calabouço, como o Arsenal de Guerra e Casa do Trem foram reformadas e usadas durante a Feira Mundial de 1922, juntamente com outras que foram construídas sobre o aterro ao redor, assim como em outras áreas próximas da cidade. Após a feira, as construções antigas e reformadas em estilo Neo-Colonial passaram a abrigar o Museu Histórico Nacional.

O arrasamento do Morro do Castelo, também deu origem à esplanada (área plana) do Castelo, que mereceu destaque dentro de um plano urbanístico muito amplo, feito por Alfred Agache, urbanista contratado para elaborar um plano para a cidade do Rio de Janeiro, plano este classissita e racionalista, de certo modo fantasioso para não dizer megalomaníaco.

As administrações municipais que surgiram depois da revolução de 1930, utilizaram algumas das sugestões de Agache, mas sem perder a conexão com a realidade e senso prático.

A última missa da Igreja de São Sebastião e transferência de relíquias

A última missa celebrada na antiga igreja de S. Sebastião, no Morro do Castelo, ocorreu em 1º de Novembro de 1921. Na missa estiveram presentes autoridades, e também contou com uma grandiosa presença de fiéis para receber a última benção naquele templo que foi um dia o mais importante do Rio de Janeiro.

A Igreja de São Sebastião era ocupada pelos "barbadinhos" ou "capuchinhos". Uma nova igreja foi construída na Rua Hadock Lobo, no bairro da Tijuca, para abrigar os "capuchinhos".

O marco de fundação da Cidade do Rio de Janeiro que ficava em um pátio da Igreja de São Sebastião, foi transferido para a Igreja dos capuchinhos, a mesma que foi mencionada mais acima.

Uma lápide histórica e os restos mortais de Estácio de Sá, fundador e heroi da Cidade do Rio de Janeiro, e morto em combate na luta pela terra local, também se encontravam na Igreja de São Sebastião. Com o a demolição, foram transladados para a nova Igreja da Tijuca também mencionada mais acima, e posteriormente para o Monumento à Estácio de Sá.


Veja mais sobre o Morro de Castelo:

Morro do Castelo - Início | Caminhos e Construções | Morro Castelo no Séc. 19 | Arrazamento do Morro | Tesouro do Jesuítas


Referências

  • Livros diversos sobre o Rio de Janeiro e sua História que foram consultados para dar suporte à edição desta página.