Abondono no Início da República | História da Floresta da Tijuca - Parte 7
Continuação da História da Floresta da Tijuca tendo por base os escritos de Raimundo O. Castro Maia, ex-Administrador do Parque, com acréscimo de comentários, gravuras históricas e fotos de locais narrados feitas por mim, criador destas páginas.
A Floresta nos Primeiros Anos da República
O texto em "itálico" são os relatos de Castro Maya.
Três anos depois, falecia o Barão de Escragnolle; passado outro ano era o Império que se findava, o Imperador seguia para o exílio.
Foi a Floresta inicialmente entregue a Luís Pedreira de Magalhães Castro, amigo e antigo companheiro de armas de Deodoro e Floriano. Qualificava-o ainda o fato de ser sobrinho e afilhado de Bom Retiro, com quem na mocidade passara temporadas na Solidão.
Magalhães Castro continuou a obra do seu antecessor, cuidando do parque e procurando embelezá-lo: plantou grupos de juçaras, que ainda existem, e deu a uma gruta o nome do auxiliar que descobrira a sua entrada: Luís Fernandes. Permaneceu quatro anos no posto (1890-1894).
A seguir, porém, a administração do lindo parque sofreu os efeitos de uma descentralização de poder. O trato das estradas foi entregue à Prefeitura do Distrito Federal, ao passo que as matas e águas estiveram a princípio sob a responsabilidade do Ministério da Viação, mais tarde passaram para a Educação e finalmente vieram ter ao Ministério da Agricultura.
Acima um marco ou estela de 4 faces, de estilo neoclássico, com desenhos e textos sobre painel de azulejos, em homenagem ao artista e pintor Nicolas Taunay, irmão e descentes, que estabeleceu residência em 1817 ao lado da Cascatinha. Foi colocado em 1928, durante o Governo do Presidente. Washington Luiz e gestão do Prefeito Antônio Prado Junior. Sofreu danos após ou durante a revolução de 1930, e foi restaurada na administração Castro Maya.
O marco se encontra na praça e estacionamento da Cascatinha, próximo do local onde ficava a casa de Nicola Taunay e descendentes.
Outros marcos foram também colocados no local durante a gestão do Prefeito Prado Junior, sendo um deles no local onde era a antiga residência do Barão de Escragnolle.
Um obelisco de granito, foi também erguido em 1928, em homenagem ao Barão do Bom Retiro no também chamado Largo do Bom Retiro.
Em consequência ao dualismo, aliado ao desinteresse dos primeiros republicanos, a Floresta entrou em longa fase de decadência: o mato cresceu, tomou conta das picadas, encobriu os mirantes; os recantos que o barão mantinha com especial carinho ficaram abandonados à ação do tempo, as pontes ameaçavam ruir e seus balaústres apodreceram.
Desapareceu o favor do público, que do Alto da Boa Vista seguia para as Furnas ou Vista Chinesa, depois de uma breve pausa na Cascatinha, onde já não existia a casa dos Taunay.
Conforme relatei na Introdução, fui assíduo frequentador dos seus caminhos, que percorria, ainda menino, quando morávamos na chácara em que está hoje o Colégio do Sacré Coeur.
Mais tarde meu pai comprou um sítio na Estrada do Açude, que depois passou à minha propriedade, e foi durante muitos anos minha residência de verão. Hoje pertence à Fundação Raymundo Ottoni de Castro Maya e está transformado em Museu. (Nota: Aqui Castro Maya refere-se ao Museu do Açude).
Fui portanto testemunha habitual do abandono. Percorri inúmeras vezes a cavalo os antigos caminhos imperiais - era mesmo um passeio cotidiano. Andava-se a passo, trotava-se, e no Alto do Mesquita a montada disparava num galope esperto. Tudo em perfeita solidão, apenas quebrada por um outro esquálido cantoneiro.
Entre os Prefeitos do Distrito Federal, só Pereira Passos e Antonio Prado Júnior se interessaram pelo parque e seu passado. Aquele reparou algumas estradas e este teve a iniciativa de plantar marcos recordando Taunay e o Barão de Escragnolle, que mãos de vândalos danificaram após a revolução de outubro de 1930. Efetuou-se também a restauração de algumas pontes, embora o concreto tomasse o lugar da pedra e da madeira, num desafio à tradição; devo entretanto ressaltar que, até minha administração, essas foram as únicas mostras de cuidado partidas de autoridades republicanas.
Cosntrução de Mirantes na Serra da Carioca | Extensão da Floresta da Tijuca
Ainda no século 19, foi construído o Mirante do Imperador, também chamado de Mesa do Imperador, uma bela obra em cantaria, ou seja, construção em pedra talhada.
Acima o Mirante do Imperador, construído no século 19
Mirante da Vista Chinesa, inaugurado por volta de 1903
O Mirante do Imperador, visto na foto ao lado, situa-se em um local dentro do que hoje é chamado Setor B ou Serra da Carioca do Parque Nacional da Floresta da Tijuca, que abrange além da área da tradicional Floresta da Tijuca, partes de florestas em outras áreas da cidade. A Serra da Carioca, fica do outro lado da Rua Boa Vista, rua esta onde fica o portão de entrada do Setor A, chamado de Floresta da Tijuca, sobre o qual versa o relato histórico contado nestas páginas. Em outra página deste website existe explicações sobre os setores do Parque Nacional da Floresta da Tijuca.
A Serra da Carioca, também coberta de floresta, separa o Alto da Boa Vista e bairro da Tijuca de vários bairros da Zona Sul da cidade, entre eles o Jardim Botânico. E uma estrada, próxima da entrada da tradicional Floresta da Tijuca, parte do Alto da Boa Vista, subindo a Serra da Carioca e descendo até o bairro do Jardim Botânico. Quando se chega nas partes mais altas da Serra, tem-se magníficas vistas das zona sul da cidade, suas montanhas, da Baía de Guanabara e das praias oceânicas ou fora da Baía.
Foi em uma parte alta da Serra, por onde passa a estrada citada acima, que foi construído o Mirante do Imperador, ainda no século 19, onde D.Pedro II com sua família realizava almoços campestres.
Nos primeiros anos da Replúbica, foi construído outro mirante, o Mirante da Vista Chinesa, um pouco mais abaixo do Mirante do Imperador, de onde se obtem uma vista ainda mais ampla e aberta do lado sul da cidade.
Ambos os mirantes estão em uma área chamada Gávea Pequena, sendo que este mirante foi construído durante a administração do Prefeito Pereira Passos, inaugurado por volta de 1903.
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Referências
- A Floresta da Tijuca, de Raymundo Ottoni de Castro Maya (Autor dos textos em "itálico")
- Inventário dos Bens Culturais do Parque Nacional da Tijuca, Estado do Rio de Janeiro, de autoria do Ministério do Meio Ambiente