Rui Barbosa, O Crítico Musical
Dando prosseguimento à algumas polêmicas deste grande político e jurista, em mais uma delas aqui.
O grande Jurista e Orador, era não somente um defensor da moral, como também associava gosto e gênero musical com virtudes. Partindo deste ponto, Rui Barbosa também "debutou" como critico musical ao fazer um discursso de crítica avassaladora contra um rítimo musical brasileiro, mais especificamente uma música chamada de "Corta-Jaca".
A metralhadora retórica e crítica de Rui Barbosa abriu fogo não somente contra o "Corta-Jaca" mas também contra o batuque, o cateretê e o samba, classificando-os como danças e rítimos selvagens.
Mas o que levaria Rui Barbosa a se aventurar na crítica musical associando determinados tipos de música e rítimos aos valores morais, á ética e à virtude?
Este fato ocorreu no ano de 1914, quando o então Presidente Marechal Hermes da Fonseca, já no final do seu mandato, decidiu promover uma recepção nos Jardins do Palácio do Catete, então sede da Presidência da República. A recepeção era para o corpo diplomático e o que Rui Barbosa também chamou de mais fina sociedade do Rio de Janeiro. O motivo da recepção social.
Naquela glamorosa e elegante noite, foram apresentados números musicais de música erudita ou música clássica, tendo na programação músicas de compositores como Arthur Napoleão, Gottschalk, e Franz Liszt, entre alguns outros, e se não passasse disto, certamente não haveria um alvoroço na imprenssa, e consequentemente Rui Barbosa não teria debutado como crítico musical.
Entretanto, a noite reservava uma ousada surpresa, preparada pela esposa do Presidente Hermes da Fonseca, a senhora Nair de Teffé, uma mulher jovem e inteligente, multi talentosa e considerada ousada para sua época. Além de pintora e caricaturista, era também cantora e sabia tocar piano e violão.
A surpresa preparada por Nair de Teffé ficou para o termino da seleção de números musicais. Ela queria mostrar um pouco da cultura brasileira, e não apenas as músicas elitistas habitualmente tocadas em cerimônias oficiais. E para tal havia convidado um compositor cearense chamado Catulo da Paixão, para acompanha-la ao violão. Ambos apresentaram ao violão a música Corta-Jaca, de autoria de Chiquinha Gonzaga, um maxixe que alguns chamam de tango-brasileiro.
O fato deu muito o que falar, aparecendo nos jornais muitos comentários críticos, no sentido de julgarem inapropriada um rítimo popular tocado no Palácio do Catete, sede da Presidência da República.
Para Nair de Teffé, o "Corta-Jaca" era apenas um genuíno rítimo brasileiro, bastante alegre e com uma letra bem humorada, e porque não apresenta-lo ao corpo diplomático? Mas para a oposição política e seus críticos era um rítimo popular inapropriado, considerado sensual, aliado ao fato de ter sido tocado com violão, que naquela época era tido como instrumento de malandro e malandragem.
Os jornais estamparam a notícia, e Rui Barbosa aproveitou-se do fato para criticar também, demonstrando um gosto musical elitista e por demais preconceituoso, denigrindo alguns rítimos e manifestações musicais populares.
Na verdade, Rui Barbosa sempre se apresentava pessoalmente elitista e preconceituoso, portador de uma orgulho acadêmico exagerado, mas comportou-se neste episódio, perante a história, como um "grosseirão" e "invejoso" disfarçado de moralista. Na verdade ele havia perdido a eleição presidencial para Hermes da Fonseca, o que certamente era mais um motivo para usar o episódio do "Corta-Jaca" para fazer críticas. E foi grosseiro por atacar a "primeira dama" sob o ponto de vista pessoal e meramente moralista. Certamente uma pessoa como ele, que se julgava tão inteligente ou com valores tão elevados, deveria procurar algo mais interessante para criticar, ao invés de atacar a espontâneidade e alegria de uma mulher jovem e artista, e que não se envergonhava da cultura popular de seu próprio pais ao contrário de seu feroz crítico.
Veja outras polêmicas deste grande político e jurista.
Referencias e Fontes:
- Relato de visita do autor à Casa Museu de Rui Barbosa.
- Diversos livros sobre a história e iconografia da Cidade do Rio de Janeiro assim como sobre Rui Barbosa.