Curiosidades e Polêmicas de Rui Barbosa
Muitas das grandes figuras públicas, ao longo de sua vida tem passagens curiosas, atos polêmicos e até mesma alguns fatos ou atitudes que muitos podem julgar incoerentes.
Sem querer fazer nenhum julgamento, mas aqui enumera-se alguns episódios que são no mínimo curiosos acerca de Rui Barbosa durante o período de sua vida no Rio de Janeiro e como político da Velha República.
Caricaturas de Rui Barbosa
Apresento aqui também, algumas caricaturas de artistas da época, e algumas caricaturas montagens feitas pelo autor e editor deste website, não dentro do espirito de desconstruir, mas unicamente de homenagear, de forma bem humorada este grande homem, que gostem ou não, sempre defendeu suas idéias com determinação e eloquência.
Poucas pessoas apareceram tanto em caricaturas à sua época como Rui Barbosa. Talvez tenha sido também um dos personagens mais caricaturados da história do Brasil.
Entretanto talvez ele não se importasse ou achasse que isto era consequência de sua vida como homem público.
Em sua casa em Botafogo, hoje uma casa museu existe uma "caricatura" que ele mesmo guardava em um comôdo, em local de destaque, feita com um moringa de barro.
Abaixo do lado esquerdo, Rui Barbosa em caricatura juntamente com Barão do Rio Branco. "O Amplexo" ou "O Abraço" brinca com a pequena estatura física de Rui Barbosa. Abaixo, do lado direito, Rui Barbosa em caricatura de J. Carlos chamada "O Grito do Ipiranga à margens do Pendotiba", publicada em 10 de Setembro de 1921.
Ao lado, em caricatura de época, Rui Barbosa é mostrado fazendo longos discursos em Haia, numa conferência mundial de paz, onde se destacou com brilhante atuação. Os discursos, como eram usuais na época eram longuíssimos, duravam horas. Rui Barbosa segundo dizem era muito aplaudido ao final do discurso. Afinal, se alguém ficasse até o final é porque gostou e realmente teria que aplaudir. O se alguém ficasse até o final por não poder sair, também certamente aplaudiria, até mesmo para comemorar o final das longas falas. Mas enfim, era usual na época, e todos discurssavam longamente.
Oposição à Oswaldo Cruz | Dramatização, Paranóia ou Linguagem Exacerbada?
O higienista Oswaldo Cruz, propusera uma vacinação obrigatória em forma de lei para erradicar uma epidemia. Uma grande polêmica envolveu o assunto - O bem coletivo poderia se sobrepor á liberdade individual, ou talvez o melhor seria dizer... se o bem coletivo poderia se sobrepor à ignorância individual.
O então senador Rui Barbosa, em 1904, resolveu soltar sua metralhadora verbal recheada de exageros, linguagem apelativa e até linguagem aterrorizante contra a medida proposta pelo sanitarista. Abaixo trecho de discurso de Rui Barbosa:
"A lei da vacina obrigatória é uma lei morta. .... Assim como o direito veda ao poder humano invadir-nos a consciência, assim lhe veda transpor-nos a epiderme. ..... Logo não tem nome, na categoria dos crimes do poder, a temeridade, a violência, a tirania, a que ele se aventura, expondo-se, voluntariamente, obstinadamente, a me envenenar, com a introdução, no meu sangue, de um vírus, em cuja influência existem os mais fundados receios de que seja um condutor da moléstia, ou da morte."
Observação: Deve-se fazer notar que, quando da morte de Oswaldo Cruz, Rui Barbosa o elogiou e fez juz à memória do higienista.
My Sweet Home e Baby | O Primeiro Tropicalista?
Rui Barbosa foi um grande estudioso da lingua Portuguesa e também membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Entre 1893 e 1895, Rui Barbosa esteve exilado em Londres, onde segundo alguns, muito se identificaria com o Liberalismo Político Britânico, glorificando-o como examplar, chegando a usar expressões do tipo "onde o direito é mais seguro e a liberdade é mais perfeita" para tecer elogios rasgados ao Liberalismo Político Britânico.
Certamente ele estava certo em muitos pontos, pois se tratava de um sistema com leis avançadas para a época, mas provavelmente o escritor e autor de teatro Oscar Wilde, condenado pouco tempo antes, certamente não concordaria tanto.
Este exílio de Rui Barbosa ocorreu após o mesmo ter participado como ministro da fazenda do primeiro governo provisório da então República recém proclamada.
Curiosamente, o sistema jurídico e o regime de governo Britânico, ao qual ele tecia elogios era e ainda é uma Monarquia Constitucional, diferente do regime Republicano que ele lutou para implantar no Brasil, derrubando uma Monarquia Constitucional que existía aqui no Brasil. Mas certamente o sistema brasileiro garantia muito menos direitos aos cidadãos que a Monarquia Constitucional Britânica.
De volta ao Brasil, Rui Barbosa não temia usar alguns termos em Inglês no seu dia a dia. Chamava sua residência de verão em Petrópolis de "My Sweet Home" (meu Doce Lar) e chamava uma de suas filhas de "Baby".
Interessante que muitos anos depois, outros Baianos estiveram exilados em Londres, como Gilberto Gil e Caetano Veloso, membros da Tropicália ou Tropicalismo, um movimento cultural que mesclava a cultura popular nacional com elementos da cultura pop e estética estrangeira, com muita influência da Inglaterra ao tempo dos Beatles. Era um movimento não xenofobista, que mesclava ritimos tradicionais com instrumentos de som elétricos e eletrônicos, tendo os tropicalistas feito algumas letras de música em Inglês.
Destruição de Arquivos | Fins Nobres Justificam os Meios?
No ano de 1890, em 14 de dezembro, Rui Barbosa então Ministro da Fazenda do primeiro gabinete de governo, que veio à seguir após a proclamação da republica, ordena a queima de todos os documentos de registros de posse sobre movimentação patrimonial acercad de escravos, tendo esta ordem sido executada durante sua gestão e a de seu sucessor.
Com alegação estava o nobre fim de apagar da memória a mancha da escravidão, certamente um período abominável.
Entretanto alguns dizem que o objetivo da medida de Rui Barbosa era apenas inviabilizar a possibilidade de calcular indenizações pleiteadas por antigos proprietários de escravos, indenizações estas pagas pelo estado. O motivo desta inferência se baseia no fato de que, 11 dias decorridos da abolição, existiu um projeto de lei encaminhado à câmara propondo ressarcimento de prejuizos causados com a medida.
Certamente o motivo alegado por Rui Barbosa é nobre, e certamente não seria produtivo para a nova ordem do pais, desviar dinheiro para pessoas que já haviam se beneficiado da exploração do ser humano, e ainda desejavam indenização.
Mas não seria ainda mais nobre, ter feito isto em "pratos limpos"? Sem transgredir a justiça, justiça esta que tanto Rui Barbosa exaltava. Não seria mais interessante fazer um decreto ou propor uma lei, no sentido de que, ninguém poderia clamar indenização por conta de exploração de trabalho escravo?
E por outro lado, a destruição de provas ou dos arquivos, também não retirou dos ex-escravos as possibilidade de posteriormente reinvindicar indenização ao estado ou aos que exploravam a mão de obra dos mesmos? Certamente naquela data os libertos não tinham suficiente força para tal pretensão e talvez nem articulação. Mas uma possibilidade futura foi fechada com a destruição dos arquivos.
Lobista e Advogado de Grande Empresa?
Rui Barbosa, um orador articulado, político influente e brilhante advogado, exerceu também suas exímias habilidades não somente em prol dos mais necessitados.
Segundo relatos, em algumas situações ele chegou a correr risco de vida, não se curvando nem à ameaças de morte para defender uma causa que envolvia muitos interesses contrários.
Mas por volta de 1912, Rui Barbosa trabalhava como advogado da companhia Southern Brazil Lumber & Colonization Co.
Inc., uma grande empresa colonizadora de terras que atuava no sul do país, mais precisamente no ramo das madeireiras.
Por consequência, sendo Rui Barbosa um grande nome da política e com círculo de influência, é possivel inferir que ele teria sido também um lobista desta empresa.
Existem relatos que ele teria sido um defensor da Guerra do Contestado, no sentido de ter apoiado e incentivado o Exército a atacar populações locais, que naquela época estivessem contrárias aos interesses da companhia que ele representava.
Rasgou uma Constituição e Escreveu outra Constituição
Rui Barbosa com seus escritos era contrário ao regime de Monarquia Constituicional e à favor da República. Entretanto dentro deste sistema havia sido eleito para cargos legislativos em seu estado natal e depois para representar seu estado no Rio de Janeiro, então capital federal.
Havia uma constituição e ele apoiou um golpe ou revolução que destituiu D.Pedro II sem que tivesse existido um plebliscito favorável à continuação da Monarquia Constitucional, ou uma mudança constitucional para um sistem Republicano.
Rui Barbosa foi inclusive Ministro da Fazenda do primeiro governo da era Republicana, ainda num vácuo constitucional.
Se já existia camara de deputados e senadores, e inclusive constituição, por que rasgar uma constituição pela força, e não propor uma mudança pela razão e vias constitucionais?
Salvador da Pátria?
Na campanha presidencial de 1918, em seu folheto de campanha ele usava o seguinte slogan - "Dar voto a Ruy Barbosa é salvar a Pátria". Certamente naquela época o "Salvar da Pátria" não era uma expressão idiomática conhecida, e certamente o uso deste "slogan" tenha sido despretensioso, apenas aludindo à virtude do candidato. Mas provavelmente, esta expressão que se tornou popular, deve ter como origem a histórica campanha de Rui Barbosa à Presidência.
O Jardineiro Fiel
Muitas pessoas associam a figura de um jurista à alguém que se dedica somente aos livros e passa praticamente todo o dia fechado em gabinetes, escritórios e bibibliotecas. Mas nem sempre é assim, e como todo ser humano, Rui Barbosa tinha mombentos de puro lazer. Seu hobbie ou passa-tempo era o cultivo de espécies de rosas. Possuía muitas espécies em seu jardim da casa de Botafogo e também na casa onde morou anteriormente, no bairro do Flamengo. Ele chegou a posar para foto de uma revista da época, em seu jardim, durante seu passatempo.
Não gostava da Monarquia Constitucional Brasileira, mas...
Em 1919, Rui Barbosa veio de Palmira, cidade do Estado de Minas Gerais, onde se encontrava em campanha presidencial para cumprimentar o Rei Alberto da Bélgica que visitava o Brasil. Na verdade, segundo relatos foi o Rei Alberto que manifestou que gostaria de conhecer o famoso jurista e político, e Rui Barbosa se interessou em atender ao pedido.
Quando o Visconde de Ouro Preto, principal membro governista do último gabinete do império chamou Rui Barbosa para integrar o gabinete, Rui Barbosa recusou-se, e alegou que não poderia servir à um governo que não tivesse em sua pauta a República.
Rui Barbosa era uma pessoa elitista
Na verdade, Rui Barbosa era um defensor ferrenho dos direitos indivdiduais e posteriormente se mostrou sensivel à chamada democracia social, que era mais sensível às desigualdades. Sob o ponto de vista legal e político se mostrou preocupado com as desigualdades, mas segundo dizem, tendo os desiguais, principalmente os mais pobres não muito perto de sí e de sua família.
Um dos episódios que ilustram seu orgulho intelectual e aristocrático é o episódio onde atuou desastradamente como comentarista de futebol e outro como crítico de música mostrando seu elitísmo e orgulho tipicamente acadêmico.
Mais polêmicas de Rui Barbosa
Veja mais passagens polêmicas de Rui Barbosa como uma polêmica envolvendo a seleção brasileira de futebol e depois um verdadeiro "xilique" quando Rui Barbosa também criticou em discurso uma recepção com música popular no Palácio do Catête, na verdade um mero pretesto para criticar o Presidente Marechal Hermes da Fonseca e sua esposa Nair de Teffé.
Referencias e Fontes:
- Relato de visita do autor à Casa Museu de Rui Barbosa.
- Diversos livros sobre a história e iconografia da Cidade do Rio de Janeiro assim como sobre Rui Barbosa.