Morro e Outeiro da Glória
O Morro ou Outeiro da Glória já foi parte das mais belas paisagens do Rio de Janeiro, sendo impossível passar despercebido até o início do século 20.
Hoje em dia, bastante ocupado por construções e cercado de prédios, ainda mantém como destaque a Igreja de N.S. da Glória do Outeiro, que continua a ser um marco arquitetônico do Rio, uma atração turística e local de veneração pelos fiéis.
Origem do nome Morro da Glória
Segundo se diz, o historiador Vieira Fazenda advogou a tese que o Morro da Glória teria se chamado Morro do Lery no Século 16. E somente depois o nome de Morro do Lery teria sido usado para denominar o Morro da Viúva naqueles tempos primordios, quando o Morro da Glória passou a ser chamado de Glória. Um pouco confuso e à primeira vista parece sem sentido. Mas o fato é que, o historiador Vieira Fazenda era muito investigativo, e talvez sua conclusões seja baseadas em documentos históricos de diferentes épocas.
Mas vejamos a origem do nome Glória. Segundo o historiador sacro, Frei Agostinho de Santa Maria, que publicou um livro em 1722 chamado "Santuario Mariano, E Historia das Imagens de Nossa Senhora", este relata que desde o ano de 1671, um ermitão de nome Antônio Caminha ergueu naquele morro uma modesta capela. Este ermitão venerava junto a solidão que se impusera Nossa Senhora da Glória. E para tal ele havia esculpido uma imagem em madeira para sua ermida ou santuário, representando esta invocação da Santa.
O historiador Vieira Fazenda relata que, no ano de 1699, um certo Dr. Cláudio Gurgel, doou à irmandade da então capela de N.S. da Glória, através de escritura o outeiro da Glória, que na época lhe pertencia.
Na pintura acima, do ano de 1817, de autoria Nicolas A. Taunay, vemos o outeiro, enseada e praia da Glória, e no alto a Igreja de N.S. do Outeiro da Glória. Observe como as encostas do morro se projetavam sob o mar.
A pintura de 1847, foi feito do adro da Igreja do Outeiro da Glória, de onde tinha-se belas vistas para a cidade do Rio de Janeiro até o primeiros anos do século 20, quando não havia tantos edifícios altos na cidade. Podia-se ver sem restrições a Baía de Guanabara, Morro de Santa Teresa, a enseada da Glória, Praia da Lapa e aqueduto da Carioca, Morro de Santo Antônio (hoje quase totalmente arrasado), Passeio Público, Praia da Ajuda (atual Cinelândia) e Morro do Castelo (desmantelado em 1922) e Ponta do Calabouço (aéra com grande aterro ao redor).
Trata-se de um cenário muito diferente dos dias de hoje. As modificações são tantas, que o Rio de Janeiro de hoje seria praticamente irreconhecível por quem viveu nesta cidade naquela época.
Assim, aquele morro foi doado para a Irmandade tendo como condição que, naquele morro fosse construída uma pequena igreja, mas de construção sólida, dedicada à Nossa Senhora da Glória. A outra condição em função da doação, seria que, a Irmandade desse sepultara ao doador e a todos os seus descendentes.
O doador do morro, Dr. Cláudio Gurgel, ordenou-se padre posteriormente, e não foi um sacerdote muito pacífico. Segundo o historiador monsenhor Pizarro, ele promoveu uma rebelião por causa da Igreja, que resultou em mortes.
A Igreja de fato, de alvenaria, pedra e concreto da época, teve sua construção iniciada, acredita-se em 1714, e sendo terminada em 1739. Esta é a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, que existe nos dias de hoje, e que foi e ainda é um ponto marcante da cidade. Neste ano, por ato do bispo Frei Antônio de Gualupe, foi então fundada a Irmandade de Nossa Senhora da Glória do Outeiro.
Que fim levou o ermitão Antônio Caminha e a imagem da Santa
Segundo o historiador Vieira Fazendo, o ermitão Antônio Caminha, no ano de 1714 continuava no Rio e tinha uma chácara no bairro da Ajuda, área da atual Cinelândia. E ele viu sua antiga capelinha começar a ser reposta pelo que viria a ser uma bela e pequena igreja, que se tornaria uma "pérola" da arquitetura religiosa no Brasil, que se destaca pela sutileza e originalidade, e se tornaria um ponto de referência do Rio de Janeiro.
Mas em 1718 ele decidiu retornar à Portugal de onde viera, levando consigo a imagem que ele próprio havia esculpido, em homenagem à santa, alvo de sua veneração.Segundo se diz, ele levaria não somente a imagem da Santa, mas também outros bens que pertenciam à Irmandade de N.S. da Glória do Outeiro, e por causa disto, após denúncia ao bispo, ele não poderia seguir viagem com os objetos. Mas este decidiu então, presentear ao Rei D. João V a imagem.
O ermitão não pode seguir viagem pois teria ficado preso, mas a nau seguiu viagem com o presente do Rei. Entretanto, em meio à tanta confusão, aconteceu um fato que nem era tão icomum naquela época. A nau naufragou nas costas de Portugal, e segundo se diz, salvou-se apenas o caixote com a imagem, que acabou chegando à praia de Lagos. Após ser encontrada, esta foi levada pelos capuchinos do convento de Santo Antônio da localidade, tendo sido colocada no altar mor da capela do convento. Posteriormente a imagem foi levada para a Igreja de São Sebastião da mesma cidade.
Provavelmente Caminha deve ter sido libertado posteriormente, mas enfim, o fato de ter ficado detido, pode ter salvo sua vida.
No ano de 1942, um cópia desta imagem cuja escultura em madeira é atribuída ao ermitão Caminha, chegou ao Rio, para ser colocada em um pequeno nicho da ladeira que leva à Igreja da Glória do Outeiro. Assim, um cópia da imagem original, passou à conferir àquela igreja uma nova devoção.
O escritor José de Alencar, possui um romance popular chamado "O ermitão da Glória", onde refere-se à Antônio Caminha, onde aborda a história e também lenda da primitiva ermida que existiu antes atual Igreja, edificada entre 1714 e 1739..
Fatos que tornaram famoso o Morro e Outeiro da Glória
Certamente a primeira ermida, e depois a Igreja de N.S. da Glória do Outeiro, que é considerada uma pérola e obra prima do barroco no Brasil, sempre foi o seu maior ponto de destaque.
A situação do morro da Glória, tendo suas encostas se projetando no mar diante da antiga Enseada da Glória (onde existe hoje a Praça Paris) e Praia do Russel (também aterrada), criavam um cenário muito pitoresco e muito representado, principalmente no século 19 por muitos pintores.
Outro fato ligado á este monte e sua igreja, é a festa de Nossa Senhora da Glória, que ja foi um dos acontecimentos mais populares da Cidade do Rio de Janeiro, carregando muitas tradições. Ainda nos dias de hoje é acontecimento que atrai fieis de visitantes.
No século 19, o pitoresco morro com sua igreja passou a ser frequentado pela então família real estabelecida no Brasil. Em 1819 D. Pedro I e D. Leopoldina subiram o morro e batizaram sua filha, a princesa Maria da Glória, futura Rainha de Portugal. Depois desta data, os membros da família real brasileira passaram a ser batizados no local, entre eles D.Pedro II e a Princesa Isabel.
Na gravura acima, vemos o Morro da Glória e a Igreja de N.S. do Outeiro da Glória em 1834, tendo ao fundo a Baía de Guanabara, visto do Morro de Santa Teresa. O cenário dos dias de hoje se encontra totalmente mudado. Onde havia a enseada e praia da Glória, está a Praça Paris construída sobre aterro feito por volta de 1922, com material vindo do desmonte do Morro do Castelo. Antes do aterro da Praça Paris, outra faixa ao longo do litoral já havia sido aterrada, passando pela Glória para construção da Av. Beira Mar. À frente da Praça Paris e antiga Praia do Russel, foi feito o Aterro do Flamengo em adição e Marina da Glória. Observe que ao fundo vemos o Morro da Viúva, que nos dias de hoje está cercado de prédios altos, e também possui aterros ao seu redor. Se o Rio hoje em dia é bonito, veja como era a quase 2 séculos atrás? Qual deles voce prefere?
Referencias e fontes:
- Consulta a diversos livros sobre a história e iconografia do Rio de Janeiro para dar suporte à criação desta página.