Morro Santa Teresa ou Morro do Desterro
O Morro de Santa Teresa, que originou o nome de um dos mais pitorescos e agradáveis bairros do Rio, o bairro de Santa Teresa, teve em tempos passado o nome de monte o Morro do Desterro, pois no local existiu uma Capela sob a invocação de Nossa Senhora do Desterro, antes da construção da Igreja e Convento de Santa Teresa.
Uma ermida no início do século 17 atraía peregrinos ao Morro do Desterrro
Segundo historiadores do velho Rio de Janeiro, foi nos primórdios do século 17, entre os anos de 1620 e 1624 que Antônio Gomes do Desterro construiu uma simples e tosca ermida (capela afastada) em homenagem à Sagrada Família, tendo como pais, José e Maria quando de sua fuga para o exílio no Egito.
Desterro é sinônimo de "exílio", e embora este termo não seja usual nos dias de hoje, era mais comum em termos passados. E era também um sobrenome.
Embora o devoto tivesse também este sobrenome, certamente tanto o sobrenome como a construção da capela devem remeter à sua devoção à invocação da Santa. Relatos tomam como fato que, a milagrosa imagem de Nossa Senhora do Desterro, que na capela ficava, logo começou atrair devotos em busca de graças da Santa.
Morro de Santa Teresa em 1848
Relata-se que, em 1650, o jesuíta e biográfo de Anchieta, Padre Simão de Vasconcelos, encontrava-se enfermo, então no Morro do Castelo, onde situava-se o Colégio e Igreja dos Jesuítas. Em decorrência do fato, e no intuito de obter a cura do padre, seu colega, o Padre João de Almeida foi celebrar uma missa na ermida do Morro do Desterro, com intenção da cura do amigo enfermo. Este ao regressar ao Colégio dos Jesuítas, encontrou Padre Simão em bom estado e curado de seus males.
Esta pintura de 1847, tomada do adro da Igreja da Glória, mostra ao centro a antiga enseada da Glória (Atual Praça Paris), e do lado esquerdo a Rua da Glória e as encostas do Morro de Santa Teresa. Mais à frente vemos o Aqueduto da Carioca (Arcos da Lapa), o Morro de Santo Antônio (desmantelado) e à direita o Morro do Castelo (desmantelado). Ao fim da Praia da Glória, vem a Praia da Lapa, o Passeio Público com seu antigo terraço junto ao mar, depois a área do antigo Convento da Ajuda, onde hoje é Cinelândia.
Acima, vista do Aqueduto da Carioca, tendo ao lado direito o Morro e Convento de Santa Teresa. Á frente do aqueduto aparece o antigo casario da Rua Mata Cavalos (atual Rua Riachuelo) e Rua dos Arcos. Atrás do aqueduto, vemos as árvores do Passeio Público e a torre da Igreja de N.S. do Carmo da Lapa.
Está capelinha e pequeno santuário, situada então em um Morro agradável, naquela época com belas vistas para Cidade e Baía de Guanabara, passou a atrair inúmeros moradores do Rio de Janeiro de então, não somente pela devoção com a Santa, mas por ser o local aprazível e ótimo para passear.
A Capela e Santuário de Nossa Senhora do Desterro, ficava à uma distância de 3 kilômetros da então Cidade do Rio de Janeiro. A capela ficava também perto da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, que ficava na área hoje conhecida como Cinelândia ou Praça Marechal Floriano.
Embora estisse à apenas 3 kilometrós da Igreja da Ajuda, nesta época era necessário contornar a lagoa do Boqueirão existiu no local até o final do século 18, quando então foi aterrada. No local desta lagoa, foi construído o Parque Passeio Público.
Antônio do Desterro doou suas terras
Em função da grande devoção que tinha por Nossa Senhora do Desterro, Antônio Gomes do Desterro decidiu doar suas terras que tinha no local onde ergueu a capela. Doou não apenas as terras dos arredores da capela, mas também outras fazendas, para que fornecessem rendimentos para amparar para sempre as obras e a casa da Santa de sua devoção.
Os rendimentos deveriam amparar também um ermitão que da capela cuidava, juntamente com os serviços da mesma, além de sustentar alguns escravos. Por volta de 1698, ao final do século 17, este ermitão, Manuel Corrêa, que horrava honestamente seu compromisso, juntamente com dinheiro dado por romeiros, conseguiu comprar vários imóveis, aumentando assim o patrimônio do que talvez seria uma irmandade de Nossa Senhora do Desterro. Entre os imóveis, estariam dois na Rua das Flores que atualmente se chama Travessa do Ouvidor, um na Rua do Rosário e outro na Rua da Quitanda.
A antiga ermida deu lugar ao Convento de Santa Teresa
Já no início do século 18, junto à ermida existente, entre os anos de 1712 e 1716 que se instalaram por um breve período as Carmelitas Descalças, vindas da Bahia. Após desistirem de se fixarem no local, voltaram para a Bahia.
Em 1724, todos o bens da ermida de N.S. do Desterro foram considerados como devolutos (devolvidos) à Coroa, por despacho do bispo D. Antônio de Guadalupe com fins de fundar o Seminário de São José. Em 1738, serviu como moradia para os capuchinhos ou "barbonos" italianos, mais conhecidos na época como "barbadinhos".
Entretanto, um novo evento realmente marcante para a história do Morro do Desterro e para a cidade do Rio de Janeiro ocorreu no ano de 1750. Neste ano, o governador Gomes Freire de Andrada, conde de Bobadela, iniciou a construção do Convento de Santa Teresa no mesmo local da antiga ermida. Foi desde esta época que o Morro do Desterro passou a se chamar Morro de Santa Teresa.
Batalha no sopé do Morro de Santa Teresa
Um combate foi travado em 1710 aos pés do Morro de Santa Teresa, nas proximidades do Convento de Santa Teresa. Na época existia a ermida de N.S. do Desterro.
O combate se deu entre as tropas do cosário francês Duclerc, que com mais de mil homens havia desembarcado em Guaratiba, subido e descido o caminho da Estrada dos Três Rios, que passa pela serra que separa a baixada de Jacarepaguá da área da atual Tijuca e cercanias, e vindo passar pela Estrada de Matacavalos, atual Rua Riachuelo.
Foi no local que encontraram tropas improvisadas, com cerca de duzentos homens à paisana e mal armados, que ofereceram combate. Em decorrência do fato e do combate, a ermida sofreu um início de incêndio.
Embora tivesse existido a resistência no local, Duclerc conseguiu passar, mas foi finalmente derrotado em combate travado na Rua Direita, atual Rua Primeiro de Março no centro do Rio.
Referencias:
- Consulta a diversos livros sobre a história e iconografia do Rio de Janeiro para dar suporte à criação desta página.