Passa despercebido nos dias de hoje, tanto para a maioria do cariocas bem como para muitos visitantes, um antigo chafariz colonial na Praça XV, uma das mais belas obras de arquitetura do período colonial.
Veja também sobre o Largo do Paço.
Esta bela relíquia que foi construída durante o mandato do Vice-Rei D. Luiz de Vasconcelos e Souza, ou Marquês do Lavradio, já foi um dos ícones da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, algo que muito chamava a atenção por sua beleza e posição de destaque em tempos passados. Observe que o chafariz é um primoroso trabalho em pedra lavrada ou cantaria.
Embora nos dias de hoje associamos a palavra chafariz à um elemento paisagistico ou arquitetônico cuja função é meramente estético ao criar beleza com jatos dágua, em tempos passados chafariz era sinônimo de fonte para suprimento de água para a população. E a função do Chafariz da Pirâmide era abastecer com água as embarcações que ancoravam próximas ao cais da Praça 15, antigamente conhecida como Largo do Paço. Ou seja fornecia água às imediações e aos marinheiros das embarcações.
Quando o Chafariz foi construído o mar chegava até ele, ou melhor, ele se encontrava muito proximo do mar. Com o decorrer dos anos aterros sucessivos foram feitos, distanciando o mar cada vez mais do chafariz. Em algumas pinturas de época, pode-se ver que, já na metade do século 19, uma estrutura de madeira havia sido erguida para levar aguá até beira mar, já que um aterro de muitos metros à sua frente havia sido feito.
O chafariz é tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e o autor do projeto e obra é Mestre Valentim, que possui inúmeras obras e esculturas espalhadas pelo Rio de Janeiro, feitas no final do século 18, no tempo do Marques do Lavradio, que admirava seu trabalho. Mestre Valentim também autor do projeto original do Passeio Público, do antigo terraço e de algumas esculturas que lá se encontram.
O chafariz da Pirâmide foi construído onde antes existiu outro erguido pelo Governador Gomes Freire de Andrada, e foi inaugurado no ano de 1779.
Mestre Valentim da Fonseca e Silva foi nascido no Rio de Janeiro, e sua formação se deve mais ao seu próprio esforço e talento, aliado certamente ao aprendizado com outros profissionais de sua época. Naquele tempo não havia no Brasil uma veradeira academia, como a Academia Real de Belas Artes que viria a ser criada anos depois.
Valentim foi filho de um fidalgo contratador de diamantes e de uma mulher negra. Segundo biográfos, ainda menino ele foi levado para Portugal, e lá teria desenvolvido seus talentos artísticos, principalmente como entalhador e desenhista projetista. Após voltar ao Rio, se tornou muito procurado por ouríveis e artesãos que lhe encomendavam trabalhos devido ao seu enorme talento e bom gosto.
Entre as inúmeras obras de Mestre Valentim, além do Chafariz da Pirâmide e Passeio Público com várias obras, estão também o Chafariz das Marrecas, o Chafariz das Saracuras que ficava no pátio do antigo Convento da Ajuda onde hoje é a Cinelândia, e que foi transladado para Praça General Osório em Ipanema.
Descrição do Chafariz
O chafariz é uma torre de quatro faces feita em cantaria ou pedra talhada, torre esta pequena para os dias de hoje, mas imponente para o centro de um Largo na época de sua construção. Sob o teto está assentada uma pirâmide quadrangular, que segundo relatos trazia no ápice as armas portuguesas em mármore até o ano de 1842, quando então foram substituídas por uma esfera armilar e encimada por uma coroa imperial, sendo estas peças em bronze.
Pilastras circulares arrematam a junção das fachadas, pilastras estas que por sua vez são também arrematadas por coruchéus, sendo que entre os cochureus, existe uma espécie de balaustrada.
Na fachada voltada para o mar, existe uma porta e também uma placa comemorativa da inauguração do chafariz, onde está anotada a data do acontecimento.
Nas demais faces, abaixo de janelas centrais, grandes conchoides (uma espécie de pia ou tanque feito em cantaria), recebiam a água de repuxos. Esta água era coletada de tanques que ficavam mais abaixo. A face posterior se difere das laterais por ter um medalhão ovalado em mámore, com alguns inscritos.
Veja o chafariz e sua situação integrada ao antigo cais Largo do Paço retratada em 1818, no início do século 19.
Antes de se chamar Largo do Paço, este local que já foi o ponto mais central do Rio de Janeiro, também se chamou Largo ou Rossio do Carmo e Largo ou Terreiro da Polé.
Próximo ao chafariz da Pirâmide já esteve também um outro de formato circular, de ferro com oranamentos em marmóre, tendo sido forjado em Viena, instalado em 1878. Posteriormente foi trasladado do local.
Veja o chafariz integrado ao antigo cais do Largo do Paço em 1818, início do século 19.
Referencias: