Cavalhadas no Rio de Janeiro
Relato com textos e gravuras de Jean Baptiste Debret, acerca das Cavalhadas que viu durante os anos em que esteve no Brasil. Os textos de Debret se encontram em "itálico" e os comentários de quem criou esta página em letras comuns.
As cenas mostradas são de Cavalhada ocorrida em um circo (provavelmente a ceu aberto) construído no campo de Sant´Ana para comemorar a coroação de D. João VI, em Fevereiro de 1818.
Origens das Cavalhadas Portuguesas
Nesta primeira parte do texto, Debret comenta sobre o amor do Portugueses pelos cavalos de raça e pelos torneios relacionados à cavalaria, e comenta sobre as origens e surgimento dos mesmos.
Portugal, sucessivamente governado por mouros e espanhóis, povos igualmente amadores de cavalos de raça, conseguiu, naturalmente, pelo cruzamento, uma nova espécie de corcéis elegantes e intrépidos. Voltando ao domínio de seus reis legítimos no século da cavalaria, conservou o português mais do que qualquer outro povo o amor aos torneios.
Pouco a pouco o caráter belicoso de tais exercícios foi atenuado mediante regras mais tranquilas, mas a equitação permaneceu a paixão dominante da Corte; e, com o nome de cavalhadas, transformou-se o torneio em uma série de exercícios de destreza tomados de empréstimo a todos os povos cavaleiros.
E, anualmente, na época consagrada às cavalhadas viam-se em Lisboa, os príncipes de sangue e os outros fidalgos exibir uma notável habilidade no manejo de seus ágeis e elegantes corcéis resplendendo sob a riqueza dos arreios.
As Cavalhadas no Brasil
Aqui abaixo, em outra parte do texto, ele comenta sobre está festa e torneio, que era muito comum no tempo do Brasil colonial, no tempo de D.João VI e D.Pedro I. Comenta também sobre os tipos de cavaleiros e seus trajes.
As cavalhadas foram introduzidas no Brasil pelos governadores portugueses das províncias; nas cidades do interior, em Minas, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina logo formaram elas uma multidão de hábeis cavaleiros capazes de rivalizarem com os portugueses ,em destreza e com a vantagem do acréscimo a seu jogos de manejo original do laço e das bolas.
Nota: Debret também cita a destreza dos caveleiros nos textos "O Gaúcho" e "Caça ao Tigre".
Belicosos porém, e patriotas principalmente, terminam sempre os brasileiros esses exercícios, nas festas solenes, com uma pequena guerra simulada entre partidos brasileiros e cavaleiros espanhóis. Entretanto para maior divertimento, os pretensos espanhóis vestem-se de índios ao passo que os brasileiros envergam as antigas armaduras portuguesas.
Essas pequenas guerras cujo resultado, como se deve pensar, é sempre favorável aos brasileiros, acabam, naturalmente, com uma marcha, triunfal através da cidade, durante a qual o valor dos heróis, a riqueza de sua indumentária e a beleza de seus cavalos excitam o entusiasmo geral e os aplausos interessados das senhoras orgulhosas de descobrir no cortejo um parente ou o marido.
Finalmente, terminada a passeata, espalham-se os cavaleiros pelos bailes que alegram a noite de uma tão brilhante festividade indenizando-se da ofensa momentânea à sua ternura e afeição fraternais nesse simulacro de luta em que as fantasias, embora diferentes, escondem um mesmo coração brasileiro.
Nas pequenas aldeias observam-se idêntica energia e habilidade com a única diferença do herói enfeitar-se apenas, e às pressas, com um xale de mulher à guisa de túnica, um lenço no pescoço, fitas em lugar de agulhetas e um penacho improvisado, ornamentos que causam entretanto a mesma sensação que o ouro e os vidrilhos das grandes cidades.
Reproduz aqui o contraste dos dois uniformes usados, um pelo cavaleiro da aldeia e o outro pelo de Minas ou de São Paulo, vindo com grandes despessas ao Rio de Janeiro a fim de figurar no circo construído no campo de Sant´Ana por ocasião da coroação de D. João VI.
Cenas de Cavalhada e Caveleiros
Ao lado, imagem de cavalhadas neste início de século 20, em Pirenópolis, onde esta e outras tradições antigas são preservadas.
Observe principalmente a figura do lado esquerdo, onde um cavaleiro disputa uma espécie de jogo ou torneio, onde ele com sua lança deve acertar ou retirar algo que pende entre dois mastros. A tradição deste torneiro em Pirenópolis se mantém fiel aos trajes e costumes do tempo de D.João VI, como voce pode comprovar comparando com as gravuras mais abaixo. Observe a pluma no chapel, ornamentos no cavalo, lenço no pescoço do cavaleiro e sua casaca. Mudando a figura do lado direito, trata-se de uma representação de batalha, que também era usual no tempo de D.João VI e tempos anteriores.
Mais abaixo, nas gravuras colocadas lado a lado, estão representados dois trajes usados em cavalhada acontecida no Rio de Janeiro no tempo de D.João VI.
De um lado o cavaleiro de aldeia e de outro um de Minas ou de São Paulo, que vieram com grandes despesas ao Rio de Janeiro para participar de uma cavalhada em um circo montado no campo de Sant´Ana, isto é, segundo Debret, autor das gravuras. O campo de Sant´Ana é atual Praça da República ou Campo de Santana.
Esta Cavalhada parcialmente retratada ocorreu durante as comemorações da coroação de D. João VI como Rei de Portugal Brasil e Algarves, no Rio de Janeiro em 1818.
Na imagem do lado esquerdo, está o cavaleiro de pequenas aldeias e do lado direito um cavaleiro vindo de Minas Gerais ou São Paulo.
Observe que os trajes do cavaleiros e ornamentos dos cavalos tem alguma semelhança em comum, embora os de cidades maiores, devido ao fato de serem mais abastados, posseum enfeites e elementos decorativos mais requintados. Ambos os cavalos estão com os rabos parcialmente presos, mas os enfeitos dos arreios e demais equipamentos de cavalaria, são mais requitados na imagem da direita. O traje do cavaleiro mostrado do lado direito é também mais requintado, embora parece um traje de pessoas de posse daquela época, enquanto que o da esquerda é mais improvisado, como descreve o autor das representações acima.
Ambos os cavaleiros carregam lanças e ao fundo de ambas as figuras, vemos assistentes ou talvez participantes de apoio aos jogos da cavalhada. Do lado direito, vemos dois mastros com algo dependurado entre eles, provavelmente alguma prenda ou algo que deva ser pego com a lança ou atingido pelo cavaleiro, para fazer talvez alguma pontuação. Ao lado do mastro, um rapaz, vestido com um roupa que lembra levemente um traje de toureiro e seus assistentes, como ainda usado nos dias de hoje.
Onde Ver Cavalhadas
Na Cidade do Rio de Janeiro, esta tradição como muitas outras desapareceram. Mas esta festa ainda existe em muitas cidades e locais do Brasil.
No interior do estado do Rio de Janeiro existe uma cavalhada, em Campos dos Goytacazes, feita há 327 anos, desde 1736, e anualmente realizada em 15 de Janeiro reunindo milhares de assistentes.
No Estado de Goias, existe Cavalhadas em Pirenópolis, com muitos participantes e cavaleiros em trajes interessantes. Estas festas atraem muitos turistas e visitantes à estas cidades.
Referências
- Comentários do autor desta página.
- Relatos em "itálico" e ilustrações de Jean Baptiste Debret, do Livro Viagem Pitoresca ao Brasil, de 1830, traduzido por S. Millet.