Presentes e Costumes de Natal no Século 19
Os costumes natalinos, inclusive relacionados aos presentes de natal vem de longa data.
Pelas gravuras retratadas pelo pintor Debret, durante sua estadia no Brasil, na primeira metade do século 19, podemos ver que os elementos presentes nas ceias de natal das familias mais abastadas do século 20 e 21 são praticamente os mesmos daquela época.
Presentes de Natal e Antigas Tradições
A gravura que vemos em destaque nesta página, imortaliza uma cena de entrega de presentes de natal, ocorrida no centro do Rio de Janeiro, no início do século 19.
Esta cena faz parte das memórias de Debret, publicadas em Paris, depois de seu retorno à França, onde era nascido.
Jean Baptiste Debret veio para o Brasil pouco depois da vinda de D.João VI em 1808, tornando-se seu pintor particular e também membro fundador e professor da Academia de Belas Artes.
Após o retorno de D.João VI para Portugal, Debret permaneceu no Brasil até a abdicação de D.Pedro I, quando então retornou à França.
Acompanhando esta gravura feita pelo artista, que retrata a entrega de presente para festejos de natal, está o texto de Debret que descreve a cena e comenta sobre os costumes àquela época.
Esta gravura mostrada ao lado, no livro de memórias de Debret foi entitulada "Presentes de Natal". Como bom pintor de história, ele procura respresentar com detalhes tudo que ocorria ao seu tempo. Na figura vemos os presentes sendo entregues por três homens, empregados que pertenciam à alguma rica familia.
Continuando a descrição da gravura, vemos que um dos homens carrega um leitãozinho e um perú, e uma cesta na cabeça com alguns outros presentes cobertos por uma toalha. Outro homem também carrega mais um leitão de maior porte. O homem que caminha mais à frente carrega uma cesta com muitas garrafas de vinho do porto, segundo a descrição de Debret. Na mesma sexta onde vão as garrafas, existe também uma carta de congratulações natalinas.
Sobre Presentes e Outras Manifestações Festivas
Em sua gravura, feita durante sua permanência no Brasil, Debret descreve e relata costumes natalinos relativos aos presentes. As partes entre aspas, do texto que segue abaixo são de Debret. Este texto relata costumes de uma época muito anterior à abolição da escravatura, época esta em que Debret esteve no Brasil, durante a permanência de D.João VI até a abdicação de D.Pedro I.
Dão-se presentes no Brasil especialmente por ocasião das festas de Natal, dê primeiro do ano e de Reis. No dia de Natal e no dia de Reis, sobretudo, são de rigor os presentes de comestíveis, caça, aves, leitões, doces, compotas, licores, vinhos, etc.
Costuma-se renovar na mesma época a roupa dos escravos, o que leva a conceder em geral gratificações aos subalternos.
Entretanto, entre as pessoas de posses, os presentes de gosto mais apurado são mandados em bandejas de prata com toalhas de musselina muito finas, pregueadas com arte e presas com laços de fitas cuja cor é sempre interpretativa, linguagem erótica complicada pela adição engenhosamente combinada de algumas flores inocentes.
A véspera do dia de Reis é igualmente festejada. Com efeito, grupos de músicos organizam serenatas debaixo do balcão de seus amigos, os quais em troca os convidam a subir para tomar algum refresco e continuar o concerto no salão até de madrugada."
Debret descreve de modo um tanto moralista e preconceituoso, sem eufemismos, e para os dias de hoje com linguagem politicamente incorreta outras manifestações nesta épocas do ano.Tentei mudar as primeiras palavras do texto à seguir de modo a torna-lo politicamente correto sem perder o sentido original.
"Para as classes não abastadas e consideradas de menor prestígio social, que eram compostas de trabalhadores, principalmente os que são chamados de mulatos e negros livres, essa noite constitue um carnaval improvisado; fantasiados, em pequenos grupos escoltados por músicos, percorrem as ruas da cidade e, quando a noite é bela prolongam sua excursão pelos arrabaldes onde acabam entrando numa venda e aí ficando até o nascer da aurora. Outros, ao contrário, preferem organizar pequenos salões de baile, onde se divertem ruidosamente, dançando uma espécie de lundu, pantomima indecente que provoca os alegres aplausos dos espectadores, durante toda a noite.
Eis no que se transformou no Brasil o aniversário da visita dos Reis magos.
O desenho representa a entrega de dois presentes de importância diversa: o primeiro, carregado por três homens negros, entrando por um portão, traz a carta de congratulações entre as garrafas de vinho do Porto; a apresentação do segundo, mais modesto e talvez galante, é confiada à inteligência da mulher negra encarregada de entregá-lo num humilde rés-de-chão.
A cena se passa perto do Jardim Público, cujo muro, que dá em parte para o Largo do Convento da Ajuda e em parte para o mar, se percebe ao longe."
Observações:
O Convento da Ajuda, naquela época ocupava grande parte da atual praça da Cinelândia no Rio de Janeiro, tendo sido demolido no início do século 20, para a construção da Praça Marechal Floriano ou Cinelândia.
Com relação ao "Jardim Público", certamente Debret se refere ao Passeio Público.
Debret parece um tanto irônico e debochado no comentário onde diz "Eis no que se transformou no Brasil o aniversário da visita dos Reis magos". Mesmo em outros textos, volta e meia Debret apresenta algum comentário de abordagem presunçosa.
Sobre a palavra Lundu, citada quase ao final do texto, se refere à batuque de origem africana com canto e dança.
Veja também feriados, festejos de natal no século 19.