Casa da Marquesa de Santos - Arquitetura e Neoclassicismo
A Casa da Marquesa de Santos, em São Cristóvão, é um exemplo da influência e padrões estéticos neoclássicos nas residências do Rio de Janeiro no século 19.
Assim como o Paço Imperial, foi reformada e até mimetizada de acordo com o estilo de época.
Residências e Estilo Neoclássíco
No século 19, ainda na primeira metade o Neoclassicismo, tendência que vinha desde a metade do século 18, predominava na Europa em termos de estilo arquitetônico.
No Brasil, principalmente na então capital Rio de Janeiro, a maioria das edificações construídas após vinda da família Real para o Brasil, eram influênciadas e seguiam os traços formais da arquitetura neoclássica e também os novos recursos construtivos, como uso de produtos industrializados entre eles o ferro fundido.
Esta influência se tornou mais forte ainda, com a vinda da chamada "Missão Artística Francesa", formada por um grupo de artistas franceses, em má situação na França após a derrota de Napoleão, que vieram trabalhar no Brasil a convite de D. João VI e com intuito de fundar uma Academia Real de Belas Artes.
A Casa da Marquesa e Neoclassícismo
A reforma da casa comprada para ser residência da Marquesa de Santos, envolve a transformação de um casarão de estilo colonial em um casarão neoclássico. A reforma da casa da Marquesa, que era amante de D.Pedro I, estéticamente falando, seguiu também o mesmo estilo das obras de reforma do Paço Real ou Paço Imperial da Quinta da Boa Vista, quando o antigo casarão que se tornou Palácio Real passou a ser reformado até ser completamente transformado em um grande palácio neoclássico.
Características da Arquitetura Neoclássica
Após a reforma, as caracterísitcas neoclássicas se tornaram presentes ou influêntes na casa da Marquesa de Santos. Após o término da relação com D. Pedro I, a Marquesa deixou a casa em 1829. Posteriormente, provavelmente em 1857, novas modificações foram feitas. Abaixo as principais caracterísitca do estilo neoclássico em geral.
Escadaria Central dando acesso aos andares nobres e planta com simetria.
Salão com iluminação zenial, ou seja, iluminação vinda de abertura de vidraças no teto, chamadas de clarabóia. Em construções neoclássicas, geralmente este hall ou salão é tipicamente circundado por galerias com arcadas.
As fachadas são totalmente simétricas, com disposição de colunas e tímpanos clássicos.
Platibandas encobrindo e cercando os telhados, e disposição de vasos (ou estátuas) decorativos ao longo das platibandas.
Do lado esquerdo a casa que foi residência da Marquesa de Santos, que possui dois andares. Elementos neoclássicos estão presentes na fachada tais como simetria, colunas, frontão (triangulo que decora o topo da fachada) e tímpano (espaço interior do triangulo ornado com esculturas ou alto relevo), assim como platibandas encobrindo e cercando o telhado, com vasos dispostos sobre mesma. Ao lado a fachada do Paço Imperial de São Cristóvão, também em estilo neoclássico, mas contando com 3 andares. O arquiteto Pezerát que assumiu as reformas e melhorias do Paço de São Cristóvão por volta de 1825, também projetou a reforma da Casa da Marquesa na mesma época.
As Principais Transformações
A casa havia sido construída no final do século 18, e era um grande casarão, com 2 pavimentos, um sobrado em estilo colonial. Foi reformada por volta do ano de 1825, após ser adquirida para se tornar residência da Marquesa de Santos.
O arquiteto francês Pierre-Joseph Pézerat, que então era também responsável pela reforma do Paço Imperial de São Cristóvão, foi o responsável pelo projeto que reforma, que deu à casa características neoclássicas.
A casa sofreu outras intervenções ao longo do século 19 sendo que na decoração da fachada frontal, está gravada uma data de 1857, que certamente marca uma das reformas posteriores, já que posteriormente, já no 2º Reinado, pertenceu ao Barão de Mauá, o mais rico empresário da época. A Marquesa de Santos, deixou a casa e mudou-se para São Paulo em 1829.
Provavelmente, a primeira reforma da casa após a reforma empreendida por Dom Pedro I e pela Marquesa, deve ter sido feita por volta de 1857.
Entre as principais modicações pelas quais a casa passou, desde que o tempo em que era um grande sobrado colonial enumera-se as principais à seguir:
Elevação do pé-direito (altura de piso a této) do antigo sobrado, com intuito de permitir o revestimento do teto com gesso-estuque.
Os típicos beirais laterias, caracteristica tão bonita da arquitetura colonial, foram retirados, e platibandas foram construídas circundando as fachadas.
Um frontão decorado foi acrescentado ao centro de simetria da fachada, e vasos decorativos foram acrescentados ao longo da platibanda.
A casa possui elementos decorativos na fachada feita em estuque por artistas franceses, que vieram para o Brasil na chamada "Missão Artistica Francesa", como os irmão Marc e Zepherin Ferrez. O trabalho destes artistas deve ser da reforma de 1857.
As sacadas possuem gradis de ferro trabalhados, e no interior a escadaria também possui guarda-corpos em ferro igualmente trabalhado.
Escadaria Principal
Em uma das reformas, foi criado um grande saguão para a escadaria central, iluminado pelo této através de uma grande claraboia. Este saguão é rodeado por galerias com arcadas no segundo piso.
Acima a escada central tipicamente neoclássica da casa da Marquesa de Santos e a ampla claraboia sobre a mesma que propícia iluminação zenital (vinda do teto). Pode-se ver as galerias que com arcadas que ladeiam a escadaria.
Salão Oval
Um salão oval no térreo e piso superior foi construído na parte posterior da casa, se projetando parcialmente para fora da fachada. Estes salões possuem vãos de portas com arcos de cantaria, ou seja, feitos em pedra talhada. O salão é bastante iluminado pelas janelas envidraçadas, dando visão para o pequeno lago e jardins internos, sugerindo integração com o exterior.
Este salão, e as formas que ele juntamente geram na fachada posterior, que se volta para os jardins é sem dúvida a parte mais interessante da casa, criando um pouco de movimento e criando um pouco de fantasia voltada para os jardins. Veja as imagens da fachada do salão oval na outra página sobre esta construção.
Vestíbulo e Hall de Entrada | Arquitetura Kitsh ou Mimetismo Neoclássico?
A casa que um dia pertenceu à Marquesa, guarda características de casas nobres so século 19, tendo um grandioso hall de entrada. em madeira trabalhada e com uma aldrava de ferro, em feitio de mão, provavelmente da primitiva construção.
Entretanto, existe um fato curioso, que certamente vem da reforma de Pezerat, de 1825, é o chamado "mimetismo" neoclássico ou disfarces feitos em madeira sobre o que existia de partes da antiga construção colonial.
Para encobrir elementos antigos de alvenaria e emboço, e conferir um aspecto mais nobre, foram utilizadas pinturas sobre madeira imitando mármore, caracterizando parte da obra como um legítimo cenário neoclássico.
Plantas da Casa
Abaixo as plantas da casa, onde são vistos o pavimento térreo e 1º pavimento ou pavimento superior.
Os cômodos da casa, com suas dependências são descritos nos tópicos que se seguem.
Descrição do Andar Térreo
Ao centro, voltando-se para a fachada principal fica o hall de entrada ou vestíbulo tendo a escadaria central à sua frente. De ambos os lados do hall ou saguão de entrada, pode-se ver na planta dois salões, também voltados para a fachada principal, que provavelmente eram salas de estar para visitas. Voltado para os jardins e pequeno lago, o salão oval.
Os outros cômodos do térreo, que ficam dos lados da escada provavelmente eram áreas de serviço da casa.
Descrição do Andar Superior
No segundo piso da casa, situam-se os salões de festas e recepções e os aposentos íntimos da Marquesa e certamente também de D. Pedro I.
Voltados para a fachada principal, estão os Salões Aurora, Salão da Música e Salão dos Deuses, usados para recepções, festas e bailes. Os salões possuem portas–janelas com sacadas guarnecidas com gradis de ferro.
No segundo andar estão também o Salão da Águia e o Salão da Flora (ou Toucador) e Salão Oval. O salão da Águia leva este nome por ter a imagem de uma águia em feita em estuque no teto, e provavelmente era o aposento de D. Pedro I e o Salão Flora destinado à Marquesa. O salão oval do segundo piso, volta-se para os jardins internos e pequeno lago, e possui uma escadaria externa que leva à estes mesmos jardins.
Quanto á decoração, as paredes possuem afrescos de Francisco Pedro do Amaral, um ex-aluno de Debret. O teto foi decoração pelos irmãos Ferrez, que vieram com Debret para o Brasil, e eram parte integrante da leva de artistas francesas que vieram para fundar a Acadêmia Real de Belas Artes.