Estácio, Bairro do Rio de Janeiro
O Estácio tem muitas estórias para contar. Leva este nome em homenagem à Estácio de Sá. É o berço do samba, já foi bairro operário, zona boêmia e até metade do século 19 era chamado de "Mata-Porcos" devido à um matadouro de suinos no local.
Origens do Nome e História do Local
O bairro do Estácio leva este nome em homenagem à Estácio de Sá, fundador da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, comandante e heroi da luta pela retomada da terra contra os invasores franceses. Esta justa homenagem ocorreu em 14 de Novembro de 1865, quando seu nome foi dado à rua conhecida como como Mata-Porcos.
Segundo o historiado e mosenhor Pizarro, o local hoje chamado Estácio, era um local coberto de matas silvestres, com caça abundante, onde se encontravam muitos porcos selvagens, decorrendo deste fato a denominação "mata-porcos" ou "mata dos porcos". Entretanto existem controvérsias, e alguns alegam que a origem do nome vem da existência no local, nos remotos tempos coloniais de um matadouro de porcos que abastecia a população da cidade com relação à este gênero alimentício. Talvez esta seja a hipótese mais plausível.
Homenagem a Estácio de Sá e Mudança de Nome de Logradouros
A homenagem feita ao sobrinho de Mem de Sá, Estácio de Sá, ocorreu em 1865, três séculos após o ano de fundação do Rio de Janeiro. Esta homenagem acabou rendendo motivo para também duas outras. Posteriormente algumas ruas próximas também foram renomadas como Mem de Sá e Salvador de Sá.
A ex-rua "Mata-Porcos", que passou a se chamar Rua Estácio de Sá tinha seu início na até então chamada Rua do Conde d'Eu, que passou a se chamar Rua Frei Caneca após a proclamação da República. Esta Rua Estácio de Sá, tem seu término no Largo do Estácio, também assim chamdado em homenagem ao fundador da cidade.
Largo do Estácio | Bairro e Largo de Mata Porcos
O Largo do Estácio é um ponto conhecido, onde se inicia a Rua Haddock Lobo e Rua Joaquim Palhares. Assim sendo, o Largo é famoso por ser um entroncamento que leva aos bairros de São Cristóvão, Rio Comprido e Tijuca.
À título de nota, fica aqui registrado que a Rua Haddock Lobo antigamente era chamada "Estrada do Engenho Velho" por seguir em direção à Tijuca, cuja região também já foi chamada de Engenho Velho. A Rua Joaquim Palheres também já foi chamda de Rua São Cristóvao.
Do início do século 18 em diante, o caminho que se tomava para ir do Centro da Cidade para São Cristóvão, Tijuca (antigo Engenho Velho) e Andaraí Pequeno era feito através da Rua Riachuelo que antigamente se chamada Rua Matacavalos. A trajetória seguia então pela Estrada Mata-Porcos, a atual Frei Caneca e chegava até o bairro ou local conhecido como Mata-Porcos, que é o atual Largo do Estácio ou antigo Largo de Mata-Porcos.
O Largo do Estácio era um entroncamento, onde o caminho se bifurcava. Seguindo a bifurcação esquerda, era o Caminho ou Estrada do Engenho Velho, atual Rua Haddock Lobo. Seguindo a bifurcação para a direita, tomava-se o caminho de São Cristovão, atual Rua Joaquim Palhares.
Até a primeira metade do século 20, o Largo do Estácio era o principal ponto de entroncamento, que ligava o centro da cidade com a zona norte. Com a construção de vias amplas mais amplas passando pela Praça da Bandeira, esta passou a ser o principal ponto de ligação do centro com a zona norte.
Descrição das Aquarelas de Thomas Ender
Abaixo aquarelas do pintor Thomas Ender, que entre os vários locais que retratou está o que hoje se chama Estácio com suas antigas construções.
Estácio, 1817-1818 - Igreja e Quartel de Mata Porcos
A primeira imagem acima é o Quartel de Mata Porcos descrito mais abaixo. A segunda imagem é o Palácio do Enviado da Áustria que em 1818 situava-se em Mata Porcos, atual bairro do Estácio, no caminho para a Quinta da Boa Vista.
Acima o casarão onde morou o Enviado Estraordinário da Áustria, Conde Von Eltz, que veio ao Brasil para acompanhar a arquiduquesa D.Leopoldina, futura esposa de D.Pedro I.
A imagem acima é a Igreja do Divino que também está descrita mais abaixo.
Atualmente sua aparência está descaracterizada.
Igreja do Divino Espírito Santo
É no Largo do Estácio que situa-se também a Igreja do Divino Espírito Santo, um pequeno santuário que foi construído em um lote doado pelo casal Correia da Costa, que entregaram também uma importância de cem mil réias em 1745 como contribuição para a sua construção. No ano que se seguiu, os moradores da região conseguiram completar a quantia para edificar a capela.
A irmandade ligada à esta capela teve seu compromisso aprovado no ano de 1860, e assim a freguesia do Espírito Santo foi criada em 8 de julho de 1865. Entenda-se o termo "freguesia" como paróquia. Esta freguesia foi desmembrada das de Santo António, São Cristóvão e Engenho Velho. A inauguração se deu no início do ano seguinte.
A antiga igreja ou capela, representada em aquarela pelo pintor austríaco Thomas Enders em 1817, foi demolida em 1899, e no mesmo local foi construída outra, que permanece até os dias de hoje no mesmo local.
Antigo Quartel de Mata Porcos
Imediatamente após passar o Largo do Estácio, seguindo em direção à Tijuca, no caminho do Engenho Velho, atual Rua Haddock Lobo, existia o Quartel de Mata-Porcos, um quartel da cavalaria. O quartel ficava um pouco adiante, após a Igreja do Divino Espírito Santo.
Na aquarela de Thomas Ender, feita em 1817, aparece o quartel do lado direito no que é hoje a Rua Haddock Lobo, e ao fundo parte de Igreja do Divino. Mais ao fundo aparece a antiga Estrada Mata-Porcos, atual Rua Estácio de Sá. No centro aparece alguns homens puxando o que poderia ser um carro com barril de pólvora ou talvez aguadeiros. Aguadeiros seriam os vendedores de água, atividade comum naquela época, quando a água não chegava às casas, e eram colhidas nos chafarizes.
Também ao centro da figura aparece um o que parece ser um oficial, alguns vendedores ambulantes e ao fundo uma carroça e um cavaleiro. Em frente ao quartel, um soldado está próximo ao portão de entrada, e do lado do portão de entrada aparece uma pequena guarita de sentinela.
Pasmaceira
O Largo também já foi famoso em tempos passados quando nele ficava a "Pasmaceira", um local onde havia rinhas de galo, reunindo e atraindo aficionados das brigas de galo do local e de bairros distantes.
Bairro, Morros e Comunidades do Estácio
O nome dado à Rua Estácio de Sá em homenagem à Estácio de Sá acabou por se tornar referência para todas cercanias imediatas, passando a se chamar bairro do Estácio ou simplesmente o Estácio.
O bairro abrange as ruas transversais e até morros próximos que se tornaram famosos e conhecidos como berço do Samba Moderno, como os Morros de São Carlos e Matos Rodrigues, e outrora, inclusive a Chácara do Céu era parte de Matos Rodrigues.
O Morro de São Carlos foi povoado durante a política de "modernização" do Rio pelo Prefeito Pereira Passos, no íncio do século 20. A chamada política do "bota-abaixo" visava abrir novas e amplas ruas, construção de prédios tidos como modernos para época ao estilo eclético, e derrubada de muito do casario vindo dos tempos coloniais e do império. Muitos cortiços e moradias de baixa renda foram derrubados e os habitantes expulsos. Como herança da política "modernizadora" e "saneadora da época", O Morro de São Carlos teve sua ocupação então iniciada na mesma época, devido à sua proximidade com o centro da cidade.
Mas depois que os novos moradores se instalaram e sacudiram a poeira, a junção de tantas pessoas no Morro de São Carlos, fez com que tudo acabasse em Samba. Ou melhor dizendo, fez surgir o Samba moderno e as Escolas de Samba.
O Estácio é o Berço do Samba
Devido ao surgimento do Samba, a popularidade do Estácio se propagou, e o local passou também a ser conhecido como "Berço do Samba". A primeira Escola de Samba surgiu do Estácio em 1928, e se chamava Deixa Falar, tendo sido fundada por Ismael Silva que se tornou uma lenda do Samba. O bairro hoje tem como representante a Escola de Samba Estácio de Sá, que já conquistou o título de campeã do carnaval carioca.
Inúmeros cantores e talentos ligados à música populara brasileira vieram do local e do Morro de São Carlos.
Atualmente, um dos músicos mais conhecidos e famosos, que vieram do Morro de São Carlos é Luiz Melodia, um dos melhores compositores e também "show man" da musíca popular brasileira. Quem nunca viu um show de Luiz Melodia não sabe o que está perdendo.
O Estácio Que Passou
No Largo do Estácio e início da antiga Rua de S. Cristóvão (hoje Joaquim Palhares), situava-se a importante Escola Modelo Estácio de Sá, que posteriormente passou a se chamar José Pedro Varela.
Mais tarde esta Escola Modelo passou a ser a Escola Normal, que antes funcionava em um edifício situado na Praça da República, edifício este, onde posteriormente passou a ser a Escola Rivadávia Correia.
Onde um dia existiu a " Caixa d'Água do Estácio", passou a existir hospital da Polícia Militar.
Em frente à Igreja do Divino Espírito Santo era organizada antigamente a festa do Imperador do Divino, uma das festas mais conhecidas e populares do Rio de tempos passados. Se tratava de uma festa com muito brilho e grandeza, que atraía muitos moradores e talvez fosse apenas superada pela festa que ocorria em frente à antiga Igreja de Sant´Ana, que existia no Campo de Santana.
A título de nota, deve-se dizer que, a Igreja de Santana foi demolida. Esta igreja e a festa ocorria no local onde hoje existe o edifício da Central do Brasil.
Festa do Divino no Estácio de Outrora
A Festa do Divino é uma festa antiga, que vem desde os tempos coloniais, e foi descrita por Jean-Baptite Debret em seu livro de memórias Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.
O escritor Manuel Antônio de Almeida também descreveu esta festa em detalhes no romance "Memórias de um Sargento de Milícias". No livro ele descreve os fogos alegóricos que levavam multidões ao Campo de Sant´Ana (atual Praça da República). Segundo o escritor, pessoas compareciam levando refeiçoes e esteiras carregadas por escravos, para fazer um piquenique que Manuel Antônio de Almeida chamada de "estranho e monumental", e que ainda segundo ele encantava e "enchia" a cabeça dos moços e moças, que se deslumbravam com o grande acontecimento.
Antigo Bairro de Trabalhadores no Início do Século
Até o século 19 na região do Estácio existiam chacarás e o povoado Mata-Porcos. No século 20 era ficou conhecido como um bairro operário, tendo abrigado uma famosa fábrica da Cervejaria Brahma (que ficava ao lado do Sambódromo). Na Av. Salvador de Sá existiu uma Vila Operária.
Até por volta de 1976, existiu também uma zona de baixo meretrício, nas áreas onde existe o Edifício da Prefeitura do Rio de Janeiro e também o Centro de Convenções da Sul América. Nesta área chamada de "mangue" existiam inúmeras casas velhas e cortiços, onde a frequência era primordialmente de trabalhadores e pessoas simples que procuravam uma "diversão rápida" nas inúmeras "casas de luz vermelha", diga-se de passagem, algumas delas cortiços caindo ao pedaços. O irônico e bem humorado apelido de "Piranhão" dado pelos cariocas ao principal edifício da Prefeitura na Cidade Nova se deve à este fato.
Nesta época, as noites eram movimentadas e ferviam em fins de semana, e um verdadeiro mercado onde alguns procuravam por suas necessidades e outros ofereciam seus "serviços" movimentava aquela parte do bairro. Embora muito próxima ao largo do Estácio, esta antiga área do Mangue pertence ao bairro Cidade Nova.
O Estácio do Dias de Hoje e a Cidade Nova
Hoje o bairro está modernizado e um antigo casario do início do século 20, que abrigava muitas lojas de comercio no térreo e alguns escritórios modestos nos andares superiores, casario este que existia do lado da Rua Estácio de Sá onde fica a estação do Metro, foi demolido após um incêndio. Hoje na Rua Estácio de Sá resta muito pouco do passado ou praticamente nada.
Ainda assim, de um dos lados da Rua Estácio de Sá, próximo ao Largo do Estácio ainda existe um pólo de loja de móveis, onde ainda se encontra bons móveis de madeira, polo este que se estende até o início da Rua Hadock Lobo. A região era e ainda é conhecida como local bom para se comprar móveis de madeira de lei.
A construção da linha do Metrô no último quadrante do século 20, juntamente com a imponente Estação do Estácio trouxe modernidade ao bairro. A construção da Passarela do Samba ou Sambódromo nos anos de 1980 na antiga Rua Marquês de Sapucaí também o bairro no calendário de eventos da cidade.
Do lado da Rua Estácio de Sá em direção à Av. Presidente Vargas fica a chamada Cidade Nova, que foi surgiu dos aterros de uma antiga área alagadiça e pantanoza, na verdde um manguezal. A da antiga zona do mangue tem sido revigorada, e uma parte muito próxima do Largo do Estácio foi replanejada. Neste local, os antigos cortiços e construções caindo aos pedaços foram demolidos e no local foi erguida as contruções da chamda Cidade Nova.
Entre esta construções estão a Estação do Metrô Estácio, o Centro Administrativo São Sebastião ou Sede da Prefeitura do Rio de Janeiro, o Teleporto do Rio de Janeiro, e Centro de Convenções chamado Sul América.
Construções Importantes e Pontos de Interesse
O antigo Complexo Penitenciário da Rua Frei Caneca também já foi um ponto de referência de uma parte do bairro, mas diga-se de passagem uma referência não muito atrativa ou positiva. Entretanto este presídio já foi desativado.
O bairro também sedia o 1o. Batalhão da Polícia Militar em um prédio neogótico que chama a atenção pelos detalhes da construção que marcaram uma época de arquitetura fantasiosa do final do século 19 e início do século 20. O edifício fica próximo à divisa com o bairro do Catumbi e próximo ao Sambódromo.
O Museu histórico da Polícia Militar e também o Hospital da Polícia Militar do Rio de Janeiro situam-se no bairro.
O Sambódromo fica na divisa com o bairro do Catumbí, e alguns consideram que este pertence aos limites do Catumbi, outros alegam que fica no Estácio.
Moradores Famosos
Quem diria, o Estácio quando se chamava Mata-Porcos já foi moradia do Enviado da Austria que lá morou em uma mansão.
Certamente Thomas Ender, pintor Austriaco que esteve no Brasil por volta de 1817-1818, produzindo valiosas gravuras que são um testemunho do Brasil naquela época, deve ter pelo menos morado durante algum tempo em Mata-Porcos, tendo como hospedeiro o Enviado da Austria.
Outra famosa que durante algum tempo morou em Mata-Porcos foi Domitilia de Castro e Canto Melo ou Marquesa de Santos de como é mais conhecido. A Marquesa de Santos foi amante de D.Pedro I, e antes de se estabelecer em um Palacete em São Cristóvão próximo ao Palácio da Quinta, ela habitou um sobrado nem Mata-Porcos.