Forte e Ilha da Laje
Sobre a Ilha e Forte da Laje, oficialmente chamado Forte Tamandaré, na entrada da Baía de Guanabara, cuja missão era formar juntamente com a Fortaleza de Santa Cruz e Fortaleza de São João uma linha de defesa contra corsários e invasores.
A Laje é uma ilhota na entrada da Baía de Guanabara no Rio de Janeiro, que por vários períodos da história e de diferentes formas, foi usada como fortificação integrando o conjunto de antigas fortalezas que defendiam a "Mui leal e heróica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro". Amplie a imagem acima para ver melhor e entender sua posição entre os outros dois fortes.
A Laje | Origem do Nome e Sua Importância
A Laje é uma pequena ilha ou ilhota, que mede cerca de 100 metros em sua maior dimensão. Certamente o nome Laje é decorrente de ser uma ilha de pedra, com forma semelhante à um platô de rocha sobre o mar.
Embora hoje em dia a palavra "Laje" seja mais usada para referir-se à um tipo de elemento estrutural do concreto armado, deve-se saber que, este nome vem da denominação dada à pedras de superfície plana de pouco espessura com relação às demais dimensões que eram usadas para antigas pavimentações de calçadas e outros usos. Laje significa também qualquer rocha ou pedra predominantemente lisa, chata e larga, de grandes dimensões.
A Laje tomou importância em vários períodos da história por causa de sua posição estratégica, situada quase ao meio da entrada da baía de Guanabara, ou barra do Rio de Janeiro. Na verdade ela divide a faixa de entrada em duas partes, ficando mais próxima do lado do Morro Cara de Cão do que do outro lado da entrada da Baía.
Desde os primeiros tempos, os que aqui chegaram, de imediato viam que, instalar canhões naquela pequena ilhota seria uma atitude inteligente no intuito de fechar a entrada da baía contra invasões.
Assim a Laje foi armada e fortificada, e o Forte da Laje juntamente com a Fortaleza de São João e Fortaleza de Santa Cruz da Barra formavam uma linha defensiva de tiro na entrada da Baía de Guanabara, para defesa da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
O nome oficial do Forte da Lage é Forte Tamandaré, em homenagem à um dos mais notáveis e conhecidos almirantes Brasileiros.
A Ratoeira | Século 16
Embora a Laje fosse um local atrativo e convidativo para instalar canhões à primeira vista, nem tudo foi fácil à principio, e nem tudo resultou nas facilidades e vantagens esperadas.
O primeiro que tentou instalar uma bateria de canhões na Laje foi o francês Villegagnon, quando chegou para estabelecer nas terras portuguesas uma colonia francesa. Mas parece que o mar não gostou muito da idéia da invasão das terras e quanto menos da ilhota. Bastou vir uma primeira ressaca para desalojar e desarticular toda a bateria alí instalada, com canhões sendo arrastados por água abaixo.
Devido à este fato, quando a ilha à eles se apresentou traiçoira, os francesas a chamaram de "Ratier" ou "Ratoeira". Veja a Ilha rerpesentada em um mapa histórico da Baía de Guanabara, de origem francesa publicado no ano de 1575 sobre a tomada do forte de Villegaignon pelos portuguêses contra os franceses. A ilha está anotada como "Le ratier".
Após a reconquista da terra, e fundação da Cidade do Rio de Janeiro, quem novamente experimentou a bravura do mar foi o Governador Salvador Correia de Sá, que naquele local também teimou em montar uma bateria de canhões e os teve arrastados para o fundo do mar.
O Forte | Século 18
A despeito dos intempéries, todos os Governadores do Rio de Janeiro que se sucediam, viam a necessidade de fortificar a Laje e muitos projetos foram esboçados no sentido de construir um forte na Ilha. Entretanto, nem sempre a vontade momentânea ou até mesmo a persistência dos homens encontra a conivência da natureza. E a violência do mar associada principalmente à poucos recursos financeiros para execução da obra sempre inviabilizavam ou impediram a concretização do que se propunha.
A invasão corsária de René Duguay-Trouin, ocorrida em 1711 e financiada pelo Rei da França e particulares, decididamente convenceu a Coroa Portuguesa que era imperativo aprimorar o sistema defensivo da cidade.
O Governador Francisco Xavier de Távora que sucedeu ao seu malfadado predecessor, e governou o Rio de Janeiro entre 1713 e 1716 deu inicio à construção do Forte da Laje segundo o projeto do Engenheiro João Massé, cujos projetos e planos foram alterados durante a execução dos mesmos.
Entretanto foi somente o Marquês de Lavradio, que Governou o Rio na condição de Vice-Rei, entre 1769 e 1779, que construiu o Forte da Laje com a aparência e estrutura que tinha até o final do século 19 e início do século 20.
Entretanto, em épocas de grandes ressacas, a Fortaleza da Laje era assaltada pelo mar, quando conseguia transpor suas muralhas. Por mais de uma vez aconteceu de desmontar os canhões, e o local sempre foi considerado de acesso difícil e complicado. Existem relatos que apontam que, em algumas ocasiões a guarnição do forte se via isolada e privada de ligação com a terra para receber suprimentos, muitas vezes por dias contínuos.
Episódios Curiosos | Século 19
Durante os reinados do século 19, alguns afirmam que o Forte da Laje chegou a ser utilizado como presídio político. Existe afirmação que o Patriarca da Independência José Bonifácio e seus irmãos, que eram também políticos, estiveram presos na ilha em 1823, após a dissolução da primeira Assembleia Constituinte.
Entretanto, existe afirmação que tanto José Bonifácio como outros polítcos teriam sido levado presos para a Fortaleza de Santa Cruz, e não na Laje.
Existe também versão que Miguel de Frias, Cipriano Barata e Pedro Ivo também estiveram presos na Laje como presos políticos, e que Pedro Ivo foi personagem de uma espetacular fuga da ilha.
Em certos episódios, o Forte da Laje também serviu de prisão para criminosos comuns quando se tratava de crimes que envolviam um forte apelo popular de vingança, e seria arriscado mante-los em alguma prisão na cidade devido ao risco de linchamento. Diz-se que num dos cárceres da ilha, três homens que praticaram um crime famoso no tempo do Império, se suicidaram para escapar da forca. (Se trata de um certo "crime da carqueirada").
A imagem ao lado é um recorte de uma litografia do Século 19, que mostra a entrada da Baía de Guanabara em 1845, onde aparece também o Forte da Laje. A cena é vista do antigo terração do Passeio Público (centro do Rio), antes dos aterros sucessivos que foram feitos no século 20 e que afastaram o mar do local. Observe que o Forte da Laje é visto bem ao centro e apesar dos poucos detalhes, pode-se notar que tinha as formas de uma fortificação classica e convencional, com altas muralhas.
Reforma e Rearmamento | Século 20
No início do século corrente, o antigo Forte da Laje, que aind mantinha a aparência do tempo da reforma e construção feita pelo Marquês do Lavradio, foi reformado e reequipado. Isto ocorreu após a Revolta da Armada, e a Laje recebeu um novo tipo de armamento ultra moderno para a época, com tecnologia semelhante em aparência aos canhões instalados no Forte de Copacabana, inclusive quanto às suas formas de blindagens e proteções.
Na verdade o Forte da Laje foi praticamente reconstruído e remodelado, assumindo uma forma de bunker, com uma grande cúpula de concreto, quando somente alguns grandes canhões despontavam do topo. As instalações da fortaleza, então reequipada com a mais moderna tecnoligia de guerra para a época, ficaram protegidas de forma praticamente subterrânea, fechadas por uma couraça de concreto, com acesso por uma abertura com portas blindadas. De frente à porta parece existir um ancoradouro e guindaste que eram utilizados para receber suprimentos e munição.
Nesta época, muitas fortalezas do Rio foram reequipadas, como o Forte do Leme, a Fortaleza de Santa Cruz que também recebeu canhões semelhantes no topo de uma das montanhas próximas, assim como o Forte de São João que também recebeu uma bateria em um local alto no Morro Cara de Cão.
Acima o Forte da Laje, hoje desativado em foto tirada do mar, em dia chuvoso e nublado, onde do lado esquerdo aparece uma pequena luz de sinalização para navegação sobre o topo do mesmo. O Forte é todo revestido por uma couraça de concreto e possui canhões que giram 360 graus abaixo de uma cúpula blindada, semelhante aos do Forte de Copacabana. O Forte é praticamente todo fechado, como se fosse um bunker.
A Desativação
O Forte da Laje hoje está desativado, assim como a Fortaleza de São João e Fortaleza de Santa Cruz da Barra. Outra fortalezas desativadas são o Forte de Copacabana e o Forte Duque de Caxias, este último também chamado popularmente de Forte do Leme, devido à sua localização.
Com o surgimento das novas tecnologias, como aviação, mísseis e submarinos as tecnologias defensivas de outrora se tornaram insuficientes.
Estas fortificações e sítios históricos continuam sob o comando do Exércicito, onde existem instalações para outros fins. A Laje, aparentemente parece abandonada, embora continue a ser área militar e não pode ser visitada.
Deve-se notar que, a desativação de alguns destes locais citados, se refere à desativação de uso como parte do sistema de defesa, mas são utilizadas para outros fins, como treinamento e estudos, capacitação física, e etc.
Acima o forte da Laje visto do lado esquerdo e do lado direito o Forte São José que faz parte da Fortaleza de São João, situado em uma extremidade do Morro Cara de Cão. Ao fundo é visto o Pão de Açucar. Nesta foto aparece tambem uma espécie de treliça ou guindaste. Sem saber com riqueza de detalhes sobre as instalações, pode-se deduzir que era usada para carga e descarga de suprimento como também de munição.
Como Ver o Forte da Laje
A Ilha e Forte da Laje não pode ser visitado. Visualmente pode-se ver que o forte se encontra abandonado no tempo presente, mas continua sendo área militar e restrita. Isto foi o que disse um militar que nos guiou em uma visita à Fortaleza de São João em 2010.
Em outras palavras não é permitido aportar no local. Mas a Ilha e o Forte pode ser vista de vários pontos da Baía de Guanabara. E pode ser vista mais de perto por quem passa de barco ou faz por exemplo, algum passeio de saveiro pelas aguás do mar da Baía de Guanabara.
Entretanto, existem pessoas que visitam as instalações do forte, chegando ao local de barcos particulares. Alguns pedem autorização para tal. O forte está em ruínas, e é perigoso entrar no local, principalmente em seu interior.
Com exceção do Forte da Laje, algumas destas antigas fortalezas são abertos à visitação, como o Forte de Copacabana, e outros podem ser visitados mediante agendamento prévio com visitas guiadas. Neste caso deve-se ligar antes para agendar.
As antigas fortalezas que podem ser visitadas, a maioria mediante agendamento prévio são a Fortaleza de Santa Cruz em Niteroi, a Fortaleza de São João na Urca, o Forte de Copacabana, o Forte do Leme e a Fortaleza da Conceição no Centro do Rio.
Acima outra foto do Forte da Laje visto de um saveiro em tour pela Baía de Guanabara. Do lado esquerdo vemos o forte e do lado direito a Fortaleza de Santa Cruz da Barra, do lado de Niteroi. A foto foi feita em um dia chuvoso como se pode notar pelos tons cinzentos de um dia nublado. A estrutura de cobertura que aparece em primeiro plano na foto, é parte da cobertura de lona do saveiro, barco do qual foi tirada a foto.
Referencias e Fontes:
- Relato de visitas do autor desta página nas proximidades do local com fotos do próprio autor.
- Diversos livros sobre a história e iconografia do Rio de Janeiro para complementar a criação do artigo desta página.