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A Bossa Nova e Beco das Garrafas em Copacabana

O surgimento da Bossa Nova, em termos de divulgação, aconteceu em uma pequena viela de Copacabana, que se tornou popularmente chamado de Beco das Garrafas. No local havia algumas boates e night clubs onde se apresentavam os artistas que cantavam a bossa no seu início, e criaram um estilo musical que viria a se tornar mundialmente famoso.

As Pequenas Boates e Night-Clubs

Em um local entre os números 21 e 37, da rua Duvivier em Copacabana, à poucos metros do mar, existe um beco onde se concentravam algumas pequenas boates e night-clubs.

No final dos anos 50 e até meados dos anos 60 do século 20 o local fervilhava durante as noites pioneiras da Bossa Nova.

No local existiam três boates, Little Club, Bacará e Bottle´s, chamados popularmente de "fumaceiros" por serem locais pequenos e fechados, onde a fumaça dos cigarros se propagavam por todo o ambiente.

No local se já apresentavam grandes nomes da noite do Rio, entre eles a cantora Dolores Duran, de carreira curta e metórica.

Foi no no Little Club, no Beco das Garrafas, no ano de 1959, que Dolores fez sua última apresentação em uma noite antes de morrer no dia seguinte.

Shows e Surgimento da Bossa Nova

No final dos anos da década de 1950 os proprietários dos night-clubs do "beco" passaram a apresentar shows de músicos ligados à Bossa Nova, movimento e estilo musical emergente. A grande maioria dos músicos estavam em início de carreira e depois se tornariam muito famosos.

Beco das Garrafas na Rua Duvivier em Copacabana

Acima, a Rua Duvivier em Copacabana, onde fica o "beco das garrafas". A rua é movimentada, com pequenos bares e restaurantes bem decorados. A área está revitalizada, embora o beco em 2010 não tenha mais o mesmo charme que o tornou conhecido em tempos passados.

Beco das Garrafas e Night Clubs

Veja uma sequencia de imagens do beco onde é vista a entrada junto á calçada e mais à frente um bar e um night-club que ainda mantém placa no local, em foto de 2010.

Praticamente todos os prédios que cercam o "beco das garrafas" já estavam construidos quando a área fervilhava nos áureos tempos da bossa nova. Antigamente, provavelmente não existia a grade que divide a rua do beco ao meio, área incorporada pelos edifícios do lado esquerdo.

Do lado direito uma loja e livraria temática sobre Bossa Nova em foto de 2010. No local ainda existem duas placas de bar e night-club, uma do "Bottles Bar" e outra ao final da viela com o nome de Don Juan Night Club.

O local se tornou muito movimentado e foi lá também que a dupla de produtores Mielle e Ronaldo Boscoli se projetaram e ficaram conhecidos com seus "pocket-shows" ou pequenas produções onde eram responsáveis por tudo, desde a direção à iluminação e o som.

A Bossa Nova logo ganhou muita fama e passou inclusive a ser artigo de exportação juntamente com alguns de seus músicos. Enquanto a Bossa Nova como movimento crescia e ascendia em fama e brilho o beco das garrafas em meados da década de 1960 perdia a evidência e o brilho que tinha nos primórdios do movimento.

A maioria dos artistas que começaram suas carreiras nos night-clubs do beco passaram a gravar discos em grandes gravadoras e se tornaram famosos. Outros se mudaram e foram trabalhar no exterior.

E devido ao pequeno tamanho das boates night-clubs não era mais possivel ter rendimento suficiente para pagar os novos caches dos agora requisitados astros emergentes.

Bossa Nova | Cantoras

Entre os grandes talentos que passaram pelos palcos daqueles night-clubs estão Dolares Duran, Elis Regina, Nara Leão, Sylvinha Telles, Claudette Soares, Jorge Ben, Marisa Gata Mansa, Doris Monteiro, Wilson Simonal, Alaíde Costa, Pery Ribeiro, Leny Andrade, Sérgio Mendes, Baden Powell, Airto Moreira, Johnny Alf, Hélcio Milito, Chico Batera, Wilson das Neves, Durval Ferreira, Dom Um Romão, Paulo Moura e Trio Bossa Três que era composto por Luiz Carlos Vinhas, Edson Machado e Tião Neto.

E Porque Beco das Garrafas

Muitos músicos tinham fama de serem boêmios e "bons de copo", termo este que significava uma exímia capacidade para esvaziar garrafas de conteúdo etílico. E na verdade, muitos deles, eram boêmios de fato, e além de musicos de talento fora do comum, eram também exímios peritos em esvaziar garrafas de whisky, cerveja e copos de chopp. E certamente não somente os músicos, mas muitos de seus entusiastas seguidores da época.

Em função dos chamados "dons" etílicos, muita gente imaginaria que o rótulo "beco das garrafas", quem sabe fosse uma homenagem ao verdadeiro arsenal de garrafas que eram esvaziadas durante as noites.

Mas quem pensa isto se engana. O apelido de "beco das garrafas" dado ao local vem de um outro fato deveras interessante.

Com a fama do beco, o local atraía movimentação de automóveis e taxis durante a noite e também de conversas de rua. O bate-papo e as gargalhadas se propagava na rua durante o intervalo entre os shows ou na saída dos mesmos. Para quem assistia os shows tudo era euforia ao ver nascer e presenciar a explosão de um movimento musical vigoroso e criativo, regado e entremeado a doses de bebidas que certamente deixava muita gente eufórica e alegre.

Mas para alguns, nem tudo era festa. Existiam os moradores de alguns prédios vizinhos que na ansia dormir e ter um sono tranquilo não se conformavam com o barulho das madrugadas. Em decorrência deste choque de adensamento urbano entremeado à busca e necessidade de diversão, algum ou alguns moradores provavelmente mal humorados e com insônia decidiram atirar algumas garrafas do alto de seus apartamentos como uma forma não muito sutil de sinalizarem seu descontentamento.

Assim da mesma forma que as as boates lançaram músicos para o sucesso, os irritados moradores lançaram também suas garrafas para a posteridade.

Logo o fato ganhou os jornais, e as ameaçadoras garrafas viraram notícia, e por bem ou por mal também ficaram conhecidas.

À partir deste fato o beco ficou popularmente conhecido à epoca como "Beco das Garrafas". Na verdade este rótulo ou apelido teria vindo do jornalista e cronista Sérgio Porto por ter se referido ao beco como "beco das garrafadas". Para quem não sabe, Sergio Porto foi um cronista muito popular no Rio de Janeiro, e utilizava também o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta.

Veja também sobre Doleres Duran e as boates do beco das garrafas.

Referências

  • Relato de visita ao local com fotos também tiradas no local.
    Livros e artigos sobre a Bossa Nova e a noite no Rio de Janeiro que foram consultados para dar suporte à este artigo.